4 de ago. de 2015

Pastoreio Político!

Pastoreio político.

Uma vaca é uma vaca, mas se você botar um sininho no pescoço da bicha, as outras a seguirão. Muitos engenheiros usaram aqueles trilhos que as vacas fazem nas encostas, ao seguirem umas as outras, com seus pés duros, para fazer o traçado de estradas. Vão pastando, vão subindo, na sempiterna busca pelo capim. O sininho, badala, badala, o rebanho em fila indiana sobe seu calvário. Então vem o berrante e as chama de volta. Elas voltam passo a passo, uns cães ladram mas não mordem. Os retireiros tomam seus úberes e os vaziam do seu leite. Elas vão para o estábulo e comem sal e forragens. Você tá gorda, diz a Maiada, cê acha? Responde com uma pergunta a Mocha, me lembrando Wood Allen, clar diz Maiada com seu sotaque da serra da Canastra, o Homi vivi batendo na suas ancas! Vou parar de comer sar! Diz a Mocha, e completa, diminui a retenção de água, e o Homi tira os zóio de minhas ancas. 

Zé Buscapé.

Vejam, não venham de garfo que hoje é sopa, dizia Baixinho, eterno barbeiro bonfinense sibilando ao pé da orelha, que agora o que está de moda é estar furisbundo, indignado, cabreiro, mas eu ontem escapei pelos pelos da tempestade, na hora h estava no lava jato da Lagoinha, o lavador queria passar pretinho, falei ; vapo, tei, sartei de banda, e vazei na braqueara, a blitz me parou e pediu um seguro, oncinha. Voltei prá Bonfim, meu Shangri-La particular, aonde estou, e não me custa nada esse dolce far niente. Deito-me tarde e me alço sem sono, mas aqui me têm, mais ou menos feliz, mais ou menos pungente e brando. Confio que vocês também estejam um pouco narcotizados como eu, e ao mesmo tempo  sabedores que tudo está por fazer, e tudo parece possível, lhes juro por Zé BuscaPé!

3 de ago. de 2015

Teimoso.

Pensava começar este post dizendo que você me perdoará se não escrevo sobre a notícia do dia, esperada por muitos, nem refletirei  sobre ela. Que teria desculpas se  também não falasse sobre as coisas da política, da sociologia ou do porvir do mundo. Que de tantas cabalas que fiz pensadas para um final de  vida intensa na padaria intelectual  autodidata, que de tantas coisas que aprendi me  dão preguiça.
Estava crente de poderia passar a semana sem bater boca pela aí, neste sempiterno exercício do preto no branco, do que penso.
Na vida os erros, os percalços nem sempre são escolhas, por vezes vêm como parte dela mesma.
Teimoso, não deixo o papel em branco, a vida sempre continua, e não existe o "deixa estar". Se já disse que muito aprendi e nem sempre botei em prática, não é linear nem eu, sou o que sou e o que posso dar abasto , além da necessária paz, serenidade, paciência, as vezes explosão e firmeza para enfrentar os inimigos. Porque os relâmpagos caem da terra ao céu.
Porque encontrarei falsários, muita gente luzindo medalhas imerecidas, com cara de tonto, confirmando a evidência. 

2 de ago. de 2015

Um führer, mamã, um führer!

Um führer, mamã, é um führer! Como sabe se divertir, sorria só olhando pela vidraça, Alexis Augusto a brincar. Führers não existem Alexis Augusto! Como não existem? Perguntava de si para consigo e voltava a se embrenhar na floresta do fundo do quintal. Atento, olhando para tudo que se movia ou imaginasse com o seus olhinhos infantis, de repente, ufa, uma caranguejeira, epa, uma cascavel, estou acostumado com eles, foi então bem do meio da moita de arranha-gato que viu uns olhos brilhantes a seguirem-lhe, mas  intimorato Alexis Augusto se aproxima, circundando a moita, o rabo escapulia do arbusto, foi que pode ver sua imensa tatuagem, cruzava toda a espádua, descia até o imenso rabo, levava um embornal de primeiras necessidades, não se banhava há dias, quiçá meses, pelo cheiro que exalava, trazia botas bem lustrosas e amarradas e as solas traziam merdas do Totó. Alexis Augusto corria atabalhoadamente, mamã mamã mamã, o führer pisou na bosta do Totó, mamã mamã mamã... 

Cecil, the Lion!

Cecil, the lion!

Qualquer sistema, e eis que vivemos sob a égide capitalista, que se resume a consumo, produção, expropriação. Não há propriedade sem expropriação. Resumindo, morrer é hereditário, até a Bíblia diz, e alguma religião acrescenta que nascemos com este pecado, ser mortal. Mas uma coisa é a morte, outra é roubar a vida. Há formas brutais de se fazer isso ( em qualquer sociedade), o assassinato puro e simples - a bagaça ou a vida! -, passa por atropelamentos, fome, direitos civis, etc. Pode-se, se querendo, matizar até matar em pensamento e omissões. A moeda da vida é a morte. Por vezes lenta e gradativa, noutras esculachadamente brutais. As mais sutis, de tão comuns, não nos dizem respeito,
Não haverá quem chegue a setembro sem matar alguma vida, uma gramínea que seja, alguém matou John, queremos matar Lula, Aécio, e eu em particular, Dunga, mentira, me contentaria com matar a sede, todos os dias, com um Brunello di Montalcino e a fome com cogumelos, mormente, Porcini e queijo de cabra a l'Huille. E para enxaguar a boca um prosseco!
Fabricamos idiotia, diuturnamente, matamos leões idem, daí passar do abstrato ao concreto é o que mais ocorre no planeta.
Conheço em Ribeirão, uma dúzia de lojas que vendem armas de caça, gaiolas, anzóis etc. Colecionadores? Sim mas de mortes. 

1 de ago. de 2015

Lemuel Gulliver.

Lemuel Gulliver, tão logo chegar de Liliput, aonde as pessoas são altas como a guia rebaixada, e  no mais, miúdas em tudo que se conote. Lemuel manteve a abstração de se achar um gigante, mesmo diante dos demais londrinos. Tanto assim que ao caminhar por Londres não perdia oportunidade em intimidar os transeuntes, mesmo os que iam a cavalo, insultava a todos com desdém, para que franqueassem-lhe o claminho, para não serem esmagados por tamanha grandeza, Gulliver. Se imaginava um gigante entre anões. O que de melhor se podia fazer era rirem se dele, na cara dele, e o escárnio tanto podia ser devido à estupidez, a loucura ou a arrogância. 

31 de jul. de 2015

La Fura dela Baus.

Lá Fura dels Baús. Reminiscências.

Era o 1988, ao Mercat des Flors, em Barcelona se apresentavam o La Fura. Fui com Rose, a pronúncia é Rossa, e Rossa quer dizer vermelha ou vermelho, segundo queira.
Rose me falava do inesperado. Era quase verão, então, primavera.
Compramos o ingresso. Ninguém podia entrar e não havia lugares marcados. Quando a porta se abriu, entramos todos, esperava por escolher um bom lugar, mas não havia. Havia à direita do grande salão, escuro, umas 25 poltronas para mil pessoas. No entanto, ninguém as ocupou. A maioria tinha alguma informação, eu pela teimosia de que Rose só me falasse em catalão, ao que parece não havia entendido nada. Enfim estava ali, e ali era o palco. O espetáculo, Tier Mon do qual me restaram estas reminiscências que conto.
A sala foi escurecendo, um fenômeno invertido, pois a visão vai se habituando à rarefação da luz, no entanto, eles diminuíam ainda a iluminação. Noto que os que me rodeavam olhavam para o teto, nisso distinguia movimentos. Último sinal, a luz ascende até o ponto de penumbra, e os atores passam voando. Havia jaulas. As cenas se desenrolam em pontos diferentes, o público procura a cena. A linguagem é corporal. O palco é por toda parte. O espectador busca a cena. Perdi Rose. Achei. Suava de tanto correr. De repente começam uma guerra, se atiram macarrão, fideus, o chão fica escorregadio, logo atiravam água uns nos outros, suspensos por fios, o piso fica ainda mais liso. Muitos caem e ali ficam a olhar para o que se passa, é tudo que recordo, juro.