8 de jul. de 2015

Plenilúnio!

São os país responsáveis do que  fazem os filhos? E os filhos hão de pagar pelo que fizeram os país? E os irmãos, uns responsáveis pelos outros? Quem já se sentiu concernido pelo que faz um familiar, e  até mesmo um amigo?  Temos tendência uma empatia que vai além do se dar conta do que se passa ou faz ou sente o outro. Em realidade, há o afeto. Sofremos e nos alegramos com o que alegra ou entristece o outro. E não há necessidade familiar! Creio que estamos longe da resposta de Caim "Não sei aonde está Abel, por acaso sou o guardião de meu irmão?"
Quinta passada, a lua estava grávida sobre Bonfim ( quem sabe se Bonfim é o mundo?), projectava uma luz leitosa sobre as casas e a matinha que daqui diviso, e pela janela, sobre a capa deste livro que insisto em não acabar  de ler, "O passo de uma geração à seguinte, não e um passeio plácido entre   condomínios e seus paisagismos domesticados, é um movimento sísmico que afeta, decide e define a vida de pessoas, um rascunho que bota em prova o universo e faz tremer os fundamentos da humanidade, e é assim mil vezes e  uma". Entre o dever e o êxtase, a tensão e a lealdade e a traição que conduz à liberdade, temos o estribo da responsabilidade com  as gerações que nos sucedem.
A propósito, este céu cinzento impede a luz leitosa da lua. 

7 de jul. de 2015

Calor é Dionísio, frio Apolo.


O calor nos põe na mesma geografia dos sentidos, onde nos subjulga e nos transforma em seres que experimentam sensações extremas, entre  estupefação e  abatimento. Quando, então, faz muito calor, nossa identidade se revela, todo aquele lixo estancado sua, entre suores e bocejos em busca de ar denso, sempre acabamos por fazer o que tenha um mínimo de sentido. É muito comum no cinema, aquele calor asfixiante, camisetas coladas ao corpo pelo suor, como se fossem a prisão de almas torturadas. Na roça é perfeita essa relação, essa entrega do homem à terra e a terra ao homem, esse diálogo mudo de lava. O frio não, o frio solidifica os sentidos que de tão duras e afiadas suas aresta machucam.
Adoro me abandonar ao calor do clima, dos corpos, do álcool,na boca de um vulcão, dos espaços pequenos, das conchas, cavernas minguadas, até perder a linha e então sair por outras atmosferas, realidades que transcendam o corpo e o tempo, como se estivesse num duelo de olhos,  num western de Sérgio Leone.
Gosto desse friozinho, apolíneo, mas me dou sempre conta de que prefiro a caldeira do inferno, que sempre borbulha, por motivos óbvios, incendeia os meus pecados, e aqueles que me julgam que permaneçam no seu mundo de porcelana, ar condicionado ou lareiras sem madeira  esperando que me consuma. 

6 de jul. de 2015

Gaiola.

Gaiola!
Quantos anos podia ter? Dez ou nove anos, andava pelo quarto ano primário. Depois do recreio, nos colocávamos em filas, ordem unida, e Dona Yone, inspetora, passava em revista. Naquele dia, ou neste dia que esta imagem esmaecida ainda me chega, como um fóton dos confins do universo, alguma euforia se mantinha em nosso bando. Cacildo sempre a frente. Todos em silêncio, menos nós. Dona Yone soltou a cacholeta, que me acertou o pé da nuca, e o sopapo sendo forte o bastante pra me levar ao princípio das filas. Logo com a mesma volúpia, transferia Cacildo para meu lado. Riamos, não havia outro remédio. Todos riam de nós, e nós de nós. Pelas orelhas, Dona Yone nos trasladou para debaixo do relógio, que ficava no corredor das salas de aula. Ali como dois palhaços, esperamos a que todas as filas passassem, com seus risinhos. Por fim vinha Dona Yone, seu passo lento e pesado, e as palmas das mãos, na ponta dos braços vinham  rechonchudas e viradas para trás, como todo ser com aquelas banhas todas. Os braços lhe pareciam remos. Com a delicadeza que lhe era possível, nos conduziu à sala de Dona Josefa, a diretora. Ruim. Mulher ruim, está para nascer até hoje. Não creio que tenha nascido. Encheu-me de palmatórias. Por fim fui conduzido só a uma sala, conjugada a biblioteca. Lá fiquei trancafiado, no escuro, até o fim das aulas. Só depois soube que Cacildo sofreu toda sorte de pancadas. Dez anos.  Lembro que chorei muito, em silêncio, ouvi o sinal da quarta aula. Por fim chegou o último sinal. Dona Yone me soltou, não me disse nada. Fui para casa. Quando cheguei, olhei de cara para a gaiola, onde, como era costume então, tinha um Canário, que cantava com o primeiro raio de sol, e quando tocava no rádio umas músicas caipiras de Lourenço e Lourival. Abri instintivamente a portinhola, e ele se foi. Estava ali desde que só tinha penugens. Talvez, como me disseram, sofresse para viver por conta,  estava domesticado, pode ter sido efêmera sua vida livre, mas com certeza, intensa, fosse o  tempo que fosse. Nem bestas, nem feras, nem jovens, nem velhos, nem povos, nem nada devem estar numa gaiola. Pensei então, ainda que naquele então, não se me ocorria por inteiro este pensamento.

3 de jul. de 2015

... O mundo passou na janela e só Zeca Camargo não viu

... O mundo passou na janela e só Zeca Camargo não viu.

É indiscutível a patente da feijoada, só queria que algum me passasse a receita. Zeca até cita os brasis, de interior, mas não os reconhece. Não os reconhece como fenômenos mediáticos, posto que não "passou" na Globo, não deu na Veja. Brasis profundos, plenos de Califórnias, torrentes quanto. A dureza do lá dó ré. A remota moda de viola, mas neste âmbito, melhor falar de music: New Orleans, sofistication de pé de porco que é este Cristiano Araújo, hein?. CA morreu.  Catarse é catarse, até Corinthians e Boca servem, mas embotamento intelectual, são outras dissonantes, Araújo não serve, nasceu e morreu e o grande cronista musical não ouviu falar, assim não serve para catarse, talvez como ele disse, essa gente que pinta livros, sem terem mais o que fazer, melhor se catarem, que eu Dostoiévski. Da feijoada à bossa tudo vem do sertão, mas Zeca não sabe, não sabe que desde que o samba é samba, o samba também é assim, e o morro da favela, também era e é grotão.
É notório, que O Brasil e a mídia GG não conhece o brasil, e não tem mais controle absoluto, porque não conhece o brasil, nem do sucesso, nem do insucesso, se é que um dia teve. Faz tempo que o brasil-grotão passa pela janela do refinado mundo da MPB, e só Zeca Amargo e a mídia GG, não viu.

1 de jul. de 2015

feixista

Feixista.
Esse feixe amarradinho,carregado em procissão com musiqueta ipsa conteret, rança e penosa. Concreto mental cavernícola que sustenta numa concha perversa e maligna, a semear conceitos de  pulcritude  moral, sem sequer saber que a água passa pela torneira. Velhos fantasmas que já assustaram outros mortos, seguem desenterrados, borrões do espectro errático do velho Plínio marchando pelo viaduto do Chá. 

30 de jun. de 2015

Domingo.

Sentado ali na minha poltrona, com Ão ronronando conivente, explode no que em mim pensa, a frase do livro; "Se procura a verdade,prepare-se para o inesperado, porque é difícil de se encontrar, e quando se a encontra, sói ser desconcertante". Mais uma vez Heráclito me surpreende, memorizei algumas frases, num tempo que as lia com afinco; sempre tentando encontrar o que nelas se ocultava. Bem acomodado naquela poltrona domingueira, deixo andar as folhas suavemente sem as ler,  diante da lógica que nenhum homem pode nadar no mesmo rio, porque nem rio nem homem serão os mesmo na segunda vez que coincidam. Creio sempre no mesmo rio? Sou ou não sou sempre o mesmo? Onde reside a verdade? Quero, de fato, encontrar a verdade. Que é a verdade e quem a possui?  Os domingos podem residir nisso. Abandono o relógio que me controla noutros dias e me entrego à virtude de vagabundear, não fazer outra coisa que coçar placidamente sem me fixar em nada,  enquanto o urubu voa lento, sem destino, como uma gota de suor escorre desde o sovaco. Bem sentado nessa poltrona, bebendo uns goles de heineken, sem TV, ou qualquer outra voz a me informar que o mundo está prestes a explodir e ninguém sabe remediar. O domingo é meu espaço para a ignorância, alienado do mundo, longe do populismo barato, dos rançosos, dos oxidados, dos vomitivos, fechar os olhos e o silêncio... Que vida sem interesse é essa? Não sei. Sei que a vida que vivo ali sentado na minha poltrona é o universo que quero me perder.

23 de jun. de 2015

Fidalgo de Braguilha.

Dilema de Chifres.
Escapar de um chifre, te leva ao outro.

Fidalgo, figura imortalizada por Cervantes, que representa um protótipo ainda vigente. Os fidalgos eram filhos de algo, neste contexto indica riqueza de alguma maneira. Era o mais baixo grau de nobreza – frequentemente durangos – adquirida como uma doação por serviços, ou por outros motivos. Um fidalgo famoso foi o Fidalgo da Butega – braguilha - por haver engendrado sete filhos machos.