Em meio ao sono
pesado, uma pomba arrulha, Casio se desperta bruscamente, seria hora
de ouvir sabiás pocas e não rolas. O despertador se deteve às
quatro e quinze. Salta da cama para dentro da calça engruvinhada
sobre o tapete de arraiolos, mais um salto sai e pela porta; não
quer repetir o que se passou da última vez que se atrasou. Sua
chefa não perdoa.
Já na rua, Casio
indaga aos bolsos: chaves, carteira, celular, reloje de pulso?
Ficaram sobre o criado-mudo. O comércio está se abrindo, bancas de
jornais, padarias… pouca gente pela rua. Bom sinal, mas já se ouve
as portas de aço se enrolando … Que horas serão? Casio se acerca
a um transeunte com roupas de grego, por um momento pensa em
Diógenes, mas logo se dá conta de equivoca sinapse… aquele é o
do barril.
_ Bom dia! Por
favor, que horas tem?
_ Quê? Quer que
lhe dê a hora? Ah, jovem, hoje não se dá nada, que mania que aqui
se tem, quando não têm nada a pedir, pedem a hora. A hora, meu
querido, é tudo que tenho, nada mais, nada menos! Me apresento,
Cronos. O deus do tempo. Mas como me simpatizei consigo, Casio…
Como sei seu nome? Já disse, sou um deus. Te vendo a hora por um
real.
Casio, apalpa os
bolsos, e encontra umas moedas, cinquenta centavos.
_ Está bem,
concedo-lhe um desconto. Cronos pega as moedas e diz: Sete e trinta.
E desvanece num piscar de olhos. “ É cedo” pensa Casio e caminha
tranquilo; deixa o tempo passar; só começa a trabalhar às nove.
Passeia pelo parque, bela manha ensolarada.
Quando chega ao
sex-shop onde trabalha, a chefe o recebe com um olhar furioso,
diabólico. De aspecto imponente. Suas ancas largas lutam contras as
costuras da saia de couro preto. Os enormes peitos se comprimem no
vale que formam e querem saltar pelo decote obtuso. Seu pescoço
curto, faz pensar que a cabeça está sobre uma bandeja. Seiko grita:
_ Casio! Está uma
hora atrasado. Apontando o digital na parede. Agora compreende o
desconto feito pelo deus. Resmunga: Oxe! Cronos! Munheca!
_ Deixe de
histórias! Vocifera Seiko. Desde a seção de sadomasoquismo com um
chicote de couro estalando no ar: para o Dark Room! Vá tirando a
roupa.
Casio pensativo se
lembra que para os norte-americanos tempo é dinheiro, para os
hindus o tempo não existe; os brasileiros sempre perdem hora, nunca
é tarde, mas não existe jantar grátis..