Enquanto houver vida há
esperança, dizem. É a última que se perde. São
palavras que não me confortam, não creio nem no emissor
nem no receptor da mensagem. A esperança é uma virtude
teológica que requer outra: A Fé.
Nunca cri no
“futuro-natureza-morta”, ainda que bem pintado. E a Fé tem
que ser Cega. Como crer em algo bom no futuro que parta desse
desassossegado presente, se todo otimista é quase um Paulo
Coelho, pueril? Todo profeta deve ser bem vigiado, e o profeta do
otimismo idem, e suas profecias deveriam ser tratadas no âmbito
da vigilância sanitária: A overdose, especificamente, de
Otimismo é nociva à saúde. Não é
possível ser feliz sem ter passado por boas desgraças.
Não vindico a dor, só constato. Em toda a história
há muito desespero e pouca esperança, particularmente
na arte.
Deixo repousar a
tristeza. Destilo o dramatismo. Fico nu. Apago os rastros do
sentimentalismo. Escrevo isso desde uma primavera que não
existe nesses trópicos, uma primavera verão invisível.
O Natal não ilumina as sombras sigilosas. Selvagem e
histriônico canto:
Oh Caridade,
desde um latão
de cobre
esperança dá
ao pobre
e ao rico fiança
oh Caridade te peço
se me alcança
essa bondade
dê ao rico
esperança
e a mim estabilidade..
Para que conste, nem
que um exército de otimistas corra atrás de mim, isso
não me fará ter esperança, porque esperança
é de desesperados, nem mesmo o ano novinho em folha, todo
vincado, pronto para “estreiar”, são muitos os
naufrágios e poucas as encostas para aportar.