7 de mai. de 2017

Gongora Bufonia.




Aqui jaz o leitor deste epitáfio.

Tatue estas palavras tuas ou lavre-as
livre-as desta larva livro livre 
louve em guitarra sóis que
 sois vós.

Déjà era cigarro por cigarra
aqui jaz se procura sentido pós zunido
não há senão macabro subentendido.


Gongora bufonia converto em górgona.
Anaximandro, quis te converter em espelho
a Impetuosa, andava desperta na gangorra, archè ápeiron

Dominique.

Morto se jaz o cemitério por falta de gnomo
vamos por porto às nossas penas,
pele suave veludo de azeitona verde 


como se migalhas,

Dominique, de nosso piquenique
nique, nique sempre alegre...

2 de mai. de 2017

Medo.

Medo.

O medo é uma mão
que deforma uma superfície
transparente
que esconde um incêndio.
Medo é as luas tenebrosas de Marte.
Medo
medo ao escuro
medo à penumbra
medo à forma escura no escuro
medo à forma clara no escuro.
Medo de descer uma escada que não sobe.
Medo, fumaça negra fazendo argolinhas.
Medo, argolinhas virando garras,
medo, garras de felinos
medo, garras de galo.
Medo, rabo de coelho
o garoto arranhado pela idade.
Tinha dez, doce, quinze?
O homem arranha o espelho
ao ver o menino fiquei gelado.
Gelo que percorre a espinha
quem é o desgraçado que ronca no meu colchão?
É tua imaginação?
Que merda estou fazendo no chuveiro da casa de um desconhecido, tomando banho sem cuecas?
Sorte, foi Você me explicar o sonho, ainda no meio da noite.


O Pedido.

O pedido.


Um casal elegante jantava num concorrido e luxuoso restaurante. O homem levantou sua taça e piscou ao maître, era o sinal combinado. O maître abriu a porta que separava a cozinha da sala e entrou de pronto um violinista tocando umas notas de Gloomy Sunday. Atrás dele vinha uma banda de mariachis que acompanhavam um homem que cantava True Love com a voz de um menino de coral, mas me parece que tardaram muito em castrá-lo. Em seguida vieram três moças vestidas com maiôs de ciclistas, junto a elas um anão num monociclo se contorcia enquanto ia para frente e para trás Um homem gordo de fraque com lantejoulas multicoloridas mantinha oito pratos de louça girando na extremidade de varas flexíveis. Uma bailarina negra fazia malabares com tochas acesas. Quatro saltimbancos atuaram no trampolim e balancim. Três moças asiáticas vestidas com saias rodadas ocultavam e desvelavam seus corpos entre uma onda de bandeirinhas de cores ondulantes. Por fim, um garção se aproximou com um carrinho de sobremesas, e sobre ele um equilibrista do Himalaia, meio semsal.
O silêncio espectante enchia o local quando o homem se levantou de sua cadeira, se ajoelhou e abriu uma caixa com um enorme brilhante diante dos olhos dela, e lhe perguntou:
_ Quer se casar comigo?
Com sorriso laqueado ela se pôs de pé e disse:
_ Não!
Deu meia volta e se dirigiu para a porta oferecendo a visão do decote infinito do vestido em suas costas, onde se viam as marquinhas brancas do biquíni. Um ar pesado parecia percorrer as mesas. Todos os comensais de sentiram, repentinamente, participes e confusos, e dissimulavam seu espanto se ocupando de seus pratos, e o ruído dos talheres sobre a porcelana rompeu o incomodo silêncio. Os artistas se foram, lentamente. O homem fez novo sinal ao maître:
_ Traga-me a conta, por favor. Hoje não comerei sobremesa.