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7 de jul. de 2016

Selfie, belfies ou textos, tudo é fungível e provisório

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 Uma moça com 32 anos morreu num acidente, sozinha, numa estrada da Carolina do Norte, detalhe fazia um minuto que havia postado um selfie no seu mural do facebook.
Umbigo! Poderia traduzir facebook por umbigo, mesmo porque como o outro, todo mundo tem. Todos temos aqui um bom remédio para a solidão, um reforço para a autoestima e um belo cenário para a vaidade.
Sempre haverá um amigo virtual disposto a ter uma conversa, outro que curtirá uma publicação, deixará um comentário... E o melhor de tudo é que os amigos de Umbigo, tirante aqueles que conhecem a nossa vida real, são do tipo I\O, liga desliga. Os conflitos não têm transcendência, as disputas, quando as há, se esquece rápido. Tudo é fungível e provisório...
Para  selfies de  cada nova camiseta, as palavras vaidade e exibicionismo, são adequadas, mas incompletas... e entendo disso tanto quanto da curvatura do tempo... mas gosto de escrever no meu mural, difícil dizer a fronteira entre a busca por autoestima  daquilo que gostaria que fosse lido, somente por isso. Sei que me estimula, ao mesmo tempo que a curtida aumenta minha autoestima...
Há o belfie que é o selfie da bunda...   todo mundo posta de cara ou de bunda... com a câmera ou com o teclado... uma selfie em cada  texto...

3 de jul. de 2016

Sob a Estrela da Manhã.

              Os exames contundentes, aos médicos não restavam dúvidas, e me disseram que, quando o tumor cerebral, que haviam detectado, se desenvolvesse – podia acontecer amanhã ou em três meses – me sentiria muito cansado, muito, como se estivesse a horas caminhando numa subida sob o sol do meio dia de algum fevereiro, então dormiria e já não despertaria.

              Quando sai da consulta fui direto para rodoviária. Tomei o ônibus que me deixava na beira da estrada, na entrada para voltar ao sítio. Aproveitei o trajeto para ir parindo a sentença, e mais tarde, depois do jantar, sai ao quintal para olhar o céu. Noite escura, sem lua, pude contemplar as milhares de estrelas e a massa densa e leitosa da Via láctea, entre os clarões das cidades distantes. Meu pensamento andava por milhões de coisas miúdas como as estrelas; dei conta que se quisesse não deixar pendencias para os meus, haveria de voltar à cidade, ir ao banco, ao cartório, à funerária. Decidi fazer no dia seguinte, logo pela manhã.

              Despertei com a alba, fui até a estrada. Não tardou e vi ao longe as luzes do ônibus. No silêncio de uma estrada ainda erma, ouvi todos os mecanismos do cambio, o bufar do freio. A porta se abriu, embarquei, paguei a passagem ao motorista e fui lá para os assentos do fundo. Ao longe ouvi uns gritos, era um vizinho de sítio pedindo que esperassem; chegou bufando pelo cansaço de correr por aquela subida. Entrou, e quando vinha pelo corredor me saudou com um aceno de cabeça e um sorriso de velhos conhecidos. A porta se fechou e o motor roncou mais forte. Clareava. Notei que estava muito cansado, muito, como se tivesse caminhado a subida do sítio à estrada sob um sol de fevereiro ao meio dia. Fechei os olhos, o ronco do motor me ninava, no céu ia a estrela da manhã, adormeci.