30 de jun. de 2016

Quase inventei um reciclador de opiniões!

Quase inventei um reciclador de opiniões!


Andava a pensar, esta tarde, que o nosso problema são as velhas opiniões que lançamos por onde passamos. Há opiniões tipo k7, carro-de-boi, vela, preto é inferior, ser gay é uma viadajem, calça boca de sino, mulher gosta de apanhar, sutiã, tirar demônio do corpo, a terra é o centro do sistema solar... por ai vão emporcalhando os rincões mais recônditos do pensamento humano.
Pensei em inventar uma máquina para reciclar estas velhas opiniões (formadas sobre tudo) , dar uma lustrada, uma pintada, fazer uma patina e quem sabe vender como relíquia. Afinal, antigamente, uma bela coleção Barsa, na estante da sala dava um ar de ilustração, mesmo lá pras bandas de Fernandópolis. Quem sabe essa gente não esteja a precisar de umas opiniões restauradas como se tivessem sido o primeiro dono? Daria pra ganhar algum dinheiro. No entanto, logo conclui que seria de mal gosto, alguém luzindo a opinião de outro, opinião é como cueca, calcinha, não dá pra usar a de outra pessoa. Mudei de ideia, melhor dito, encontrei outra solução.
No princípio pensei em usar umas engrenagens platônicas que tenho, um motor aristotélico do tipo silogistico que deve estar em algum lugar, se minha mulher não jogou no lixo, com um catalizador hegeliano, um sistema de direção marxista e acessórios kierkegaardianos para transformar opiniões em verdades. Já pensou? Me perguntei, e sorri sozinho com esse pardalismo. No entanto, fui pensando mais, mais pensei,que afinal, se acabássemos com as opiniões, acabaríamos com tudo que é humano. Não haveria mais discussão de natal. Discussão de relação. De futebol. De política. De nada. Então, desisti dessa máquina de transformação. Afinal iria transformar todos em máquinas, sem opiniões, só verdades, e não é esse o meu interesse maior. Porque gosto de me aferrar às minhas opiniões, meus símbolos e crenças.



Colchões sob Medida. Conto.

Colchões sob medida.
Enquanto matava o tempo até chegar a hora da consulta na dermatologista, que de quando em quando visitava, duas a três vez ao ano, por vezes lhe fazia um peeling e tirava pequenas marcas do rosto, passeava pelo calçadão. Se sentia bem não fazendo nada, observar pessoas, ser observada, com reserva se dizia, ela própria naquele vai-e-vem de gentes, seus rostos, todos carregamos nossos fardos, pensava. Os mirava relaxadamente, agora era tudo o que tinha por fazer, à tarde tudo exigira mais pressa, mais seriedade, beleza sobretudo. Na empresa haverá a apresentação de um novo produto. Por isso aproveitou para cuidar da aparência. Entre um pensamento e outro, se fixou na grande vitrine de uma loja de colchões, que tem à sua frente. “Colchões sob medida”, pronto, acabou o sossego. O colchão do Guilherme está pequeno para ele, talvez fosse hora de um novo. Ela entra decidida na loja, da qual só sabe o nome, “Colchões sob Medida” e ela precisa de um. Um jovem lhe pergunta que medida gostaria; ela diz que um de um metro e noventa.
A loja está em reforma, tudo bastante desordenado, por culpa da reforma, parece. O atendente pede que ela espere uns minutinhos, antes de conduzi-la a um grande escritório, sem rastro de colchões. “O gerente lhe atenderá, em seguida”.
Ela acha estranho, e quer esclarecer, só precisa de um colchão, não se trata de compra no atacado, só um colchão de solteiro, para uso particular. O atendente lhe deixa um sorriso de cumplicidade, como quem diz: estou a par.
Os minutos passam e a situação lhe parece mais surreal, decide ir embora. Vai em direção à porta, e justo agora entra um jovem, sorridente, atrativo, bem vestido, e se apresenta como Carlos. Muito mais alto que ela, e porque não dizer, ela o olhou fixamente, olho no olho. Com um gesto elegante, a pegou pelo antebraço e a conduziu a uma sala contigua; ela acreditava ser o depósito, o armazém. A sala, muito bem decorada, ali sim, havia um grande colchão de casal, coberto com uma colcha de Ibitinga, bem bordada, tudo para os clientes terem uma noção concreta de como ficaria em sua casa, se diz. Em todo lugar é a mesma coisa, mas ali não, têm muito bom gosto; meia-luz, livros espalhados; todos sabem ninguém lê, mas gostam de ver livros espalhados, um senão, talvez, um excesso de cenografia. Enquanto ela dava conta de tudo, o jovem trancava a porta atrás deles; tirou o paletó, tem aquecedor, disse, enquanto a ajudava a tirar o casaco que levava sobre o vestido, sempre que a temperatura baixe de vinte graus, que dizem, lhe caia bem.
Fique à vontade, ele disse, num tom nada comercial. Ela não entende a mudança de atitude dele, lhe parece tomar umas liberdades não cabidas a um vendedor de colchão, de solteiro, creio que ficou claro, um colchão de solteiro para meu filho Guilherme, lhe repete enquanto ele estende uma taça de champanhe e a leva para sentar na cama. Ela dá-lhe um chega para lá, isso já é demais, a coisa toda é muito ridícula. Ele, supostamente, está acostumado à situações como esta, e não se imuta e sugere, amavelmente, insinua, sutilmente, que talvez, ela prefira ir a um outro lugar, um motel, discreto, é isso?
Sua cabeça gira no meio de um grande caos. Estava cega? Que merdas fiz para estar no meio desse redemoinho? Me deixei seduzir? Ofendida e cheia de raiva deu-lhe um empurrão e o atira de costas sobre a cama, freia os primeiros impulso, porque de subto teve medo. A situação é tão absurda que se vê encurralada; é conveniente quebrar os cercos o mais rápido possível. Com a serenidade ausente, recupera a calma e o casaco. Ele a olha sarcasticamente. Ela não quer fingir, e com sensibilidade, quase cordial, confessa que não quer parecer boba, tenho a certeza que se equivocou, um mal-entendido, apesar do bom começo, ratifica, que não é o que ele pensa, talvez se havia precipitado. Realmente, entrei aqui para comprar um colchão de solteiro para meu Guilherme, que nos últimos meses deu uma espichada considerável e os seus pés ficam fora da cama. Entrei atraída pelo nome, sobretudo, porque me chamou a atenção, sem malícia, sem ver nele um duplo sentido, havia? Desculpe o transtorno. Ela fugiu sem esperar resposta. Aturdida e atabalhoadamente, ainda foi à consulta, na sala de espera tomou água a goles pequenos, saboreando como se fosse um elixir, tombada sobre a maca do consultório, adormeceu, agora respira ofegante como se estivesse numa relação sexual. E se não tivesse fugido? A dermatologista a desperta com gritos e pequenos beliscões.


Domingo

Domingo.
Sentado ali na minha poltrona, com Ão ronronando conivente, explode no que em mim pensa, a frase do livro; "Se procura a verdade,prepare-se para o inesperado, porque é difícil de se encontrar, e quando se a encontra, sói ser desconcertante". Mais uma vez Heráclito me surpreende, memorizei algumas frases, num tempo que as lia com afinco; sempre tentando encontrar o que nelas se ocultava. Bem acomodado naquela poltrona domingueira, deixo andar as folhas suavemente sem as ler,  diante da lógica que nenhum homem pode nadar no mesmo rio, porque nem rio nem homem serão os mesmo na segunda vez que coincidam. Creio sempre no mesmo rio? Sou ou não sou sempre o mesmo? Onde reside a verdade? Quero, de fato, encontrar a verdade. Que é a verdade e quem a possui?  Os domingos podem residir nisso. Abandono o relógio que me controla noutros dias e me entrego à virtude de vagabundear, não fazer outra coisa que coçar placidamente sem me fixar em nada,  enquanto o urubu voa lento, sem destino, como uma gota de suor escorre desde o sovaco. Bem sentado nessa poltrona, bebendo uns goles de heineken, sem TV, ou qualquer outra voz a me informar que o mundo está prestes a explodir e ninguém sabe remediar. O domingo é meu espaço para a ignorância, alienado do mundo, longe do populismo barato, dos rançosos, dos oxidados, dos vomitivos, fechar os olhos e o silêncio... Que vida sem interesse é essa? Não sei. Sei que a vida que vivo ali sentado na minha poltrona é o universo que quero me perder.

29 de jun. de 2016

Sorte.

Nos primeiros tempos, se levantava, fazia a barba, se duchava, se vestia alinhadamente, pegava a pastinha com seus currículos, enfrentava filas, despachava currículos pelo correio. Voltava para casa. Esperava um toque do telefone. Um e-mail. Um torpedo. Sentava-se no sofá e via televisão. Então começou alternar, dia sim, dia não ia distribuir currículos. Voltava para casa e via televisão. Já não ia distribuir currículos. Foi perdendo a vontade de comer. Foi perdendo a vontade de se barbear. Ficava em casa. Vestido com seu moletom. Sentava no sofá. Esquecia de ligar a televisão. Esquecia de comer. Um dia bateu a sorte à sua porta. O encontrou morto.   

Medo.

O Medo.
Tenho medo. Reconheço que tenho medo. Digo em voz alta: Tenho medo! Tenho medo! Tenho medo! Quer saber do que tenho tanto medo? A tudo. A mim mesmo. Do vizinho. Do cachorro do vizinho. Do som do vizinho, que estraga minha sesta. Tenho medo que morra meu gato. Tenho medo que morra a orquídea que paguei caro. Tenho medo que a mulher do vizinho não encontre trabalho. Tenho medo que o buraco em que se meteu este país não tenha fundo. Tenho medo de que os políticos parem de roubar e só sejam incompetentes. Tenho medo de que os juízes não sejam melhores que os policiais. Que os policiais não sejam melhores que os bandidos. Que os bandidos não sejam melhores que eu. Tenho medo. Só não tenho medo de quem chora. Deste tenho dó. Como diz a canção. Tenho medo da canção que não conheço. Tenho medo da Rita Lee. Tenho medo do Belchior. Tenho medo do Gabriel pensador.

Mas o vizinho vendeu o som do carro. Sua mulher arranjou emprego. O buraco do país é mais embaixo. É túnel sem fim, sem luz. Os políticos continuam roubando e incompetentes. Os juízes não são melhores que os policiais, que não são melhores que os bandidos, que não são melhores que eu, que não sou melhor que ninguém. Não ouço mais canções. Não ouço a Rita Lee, o Belchior. Gabriel pensador não pensa. Grande é a merda. Tudo sei que é. Perdi o medo de ter medo. Só sinto medo. Medo. Medo. Medo.  

Conto vomitivo.

O Vômito.


Às vezes tenho vontade de vomitar. Vomitar muito. Muito. Um vômito espesso. Em cachoeira. Em rio caudaloso. Cheio de grumos. Grumos tão grandes que não passem pela minha  goela. Um vômito que encherá a sala onde estou. O corredor. A sala de estar, sempre vazia. A casa. A rua. O bairro. A vila inteira. O ribeirão Preto. O rio em que nele deságua.  E essa vontade imensa de vomitar tanto e continuada, e exagerada, que às pessoas que estão nos quiosques, nos food trucks, nas cadeiras nas calçadas, nos bancos dos jardins, no semáforo, enfim, lhes deem vontade, também, de vomitar, de vomitar em grupo, todos juntos. Gritamos e vomitamos. E quando tudo estiver emporcalhado pelas nossas vomitadas, estaremos, por fim, limpos.  

28 de jun. de 2016

Apolo XI.

Apolo XI.

Fui criado na rua larga, onde as guias eram as traves para jogar bola. Na rua passávamos a noite tomando a fresca, os adultos bem sentados em cadeiras, bancos e a molecada correndo para cima e para baixo, a estrada e a velha estação da Mogiana, lá no fim da descida da rua da Igreja eram os nossos limites. A luz mortiça dos postes nos propiciavam conversas a voz baixa, novidades, piadas, desgraças se compartiam, enquanto pelas janelas e varandas fugia o calor acumulado nas casas durante o dia.
- Vaga-lume tem tem, seu pai tá aqui, tua mãe também e corríamos com um tição em brasa na ponta, rodopiando no ar, traçando círculos que sumiam na noite, só voltariam a aparecer quando fechasse os olhos para dormir.
- Um dois três... Migrilo, Tigriça, Toin podem voltar, eu vi quando se mexeram.... Protestos, discussões... a brincadeira voltava a começar, e quando alguém se metia na rua, a mãe da rua o tocava... tocou, não tocou... Se nos cansávamos, íamos para as escadarias da igreja a contar histórias, mula-sem-cabeça, mãe-d'água, mãe-da~lua, o Pe Canuto; o medo invadia pouco a pouco e cruzávamos as árvores do pequeno bosque, pisando leve, mas se alguém pisasse num graveto, e ele quebrasse, o barulho nos fazia correr, de por o coração pela boca.

- O pai do Zé Luiz comprou uma televisão! Sim, compraram uma igual ao do seu Humberto Toni. Na hora do recreio a noticia se espalhou pelo bairro, e logo depois da janta, veio gente até do morro do Canequinha, o Barbuzano. Cada um trouxe sua cadeira, o pai do Zé Luís botou a TV na varanda. Aquela noite soube do calor que fazia no Rio de Janeiro, suas praias, vimos Bonanza...
O pai do Zé explicou que comprará a prestação, no carnet. Em poucos meses quase todos tínhamos nosso próprio aparelho, fomos substituindo as cadeiras, os banquinhos na calçada pelo sofá, a mesa do jantar, pelo sofá, e as conversas sussurradas pelo psiu, ” Assim não posso ouvir o que dizem”.

Enquanto víamos ao vivo, cada uma na sua casa, a chegada da Apolo XI à lua, morria a dona Isildinha. Ninguém sentiu sua falta antes da manhã do dia seguinte, quando ela não saiu para varrer a frente de sua casa.Apolo XI.

Eu, ou meus Erros e eu!

Eu, ou meus Erros e eu!

As vezes meus erros são mais inteligentes que eu. O certo é que acada erro me ensina algo de mim mesmo, mas alguns deles me levam intelectualmente a lugares longínquos, que minha razão nem sequer é capaz de sonhar. Sonhar que as emoções modifiquem os fatos, já não sonho. Que tudo passa, mas o passar permanece no seu passar, até que então passe. Que muito da vida depende da sorte, e isso simplesmente não posso aceitar, esperar. Hoje o que mais temo é um fotógrafo, que um psicanalista, um argumento contrário.
Muitos que conheço temem ou não querem ser identificados com nenhum grupo bem definido por suas divisas, de onde podem a tudo atacar. Acontece que isso me parece a vã glória do anonimato; não sei se fazem isso por fragilidade, ou por isso se tornam frágeis, o que é um problema, me parece, principalmente, se as divisas se tornam fronteiras.
Aprendi imenso com palavras convincentes e não pelo que pudessem, simplesmente, significar, porque todo absoluto é algo patológico; por isso não me canso de repetir uma frase da MPB que diz que quem vende saúde, provavelmente é doente; o que é horroroso, espécie de misticismo religioso que baniu a teologia, ou qualquer condicionante.
Hoje quase não me entedio, não me aborreço facilmente, mas por vezes não me escapo do tédio, no entanto nesses momentos não saio a procura de fazer, ou de um acontecer, porque é muito comum acontecer algo, e temo não estar preparado, então espero o aborrecimento passar, é melhor; porque, entre outras, se não me preparo, sou campeão em fazer mal e porcamente as coisas boas, e perfeitamente as coisa ruins.

Moral da história, melhor não fazer nada sem estar minimamente preparado, senão que acaba tudo dando no mesmo, em erro. Embora saiba que possa de alguns erros tirar proveito, mas sei que de nem todos, melhor dizendo de poucos.  

EXARCONTE OU CORO

EXARCONTE OU CORO

Se quer  exarconte, mas não passa de coro,  formado por grupos de fantasmas, suicidas, afogados, prestamistas, palhaços e imbecis, sacerdotes e bispos malvados, médicos agiotas, serviçais ineficazes, bacharéis às pencas, ignorantes diplomados, corruptos  da antinomia: policiais e bandidos, pensadores estetas e estetas de toda classe e ausência, nenhum desses grupos necessita ser revalidado pelo sistema, analógico,  ao que todos contribuímos inevitavelmente. Personagens fascinantes? Sim... mas tênues, opacos, cinzas.

Butecuando?

A saideira, antes do Toba bar, iu toba!
Importação de médicos.
 Sometimes me pergunto se o pessoar da unaerp, de vassouras, de sei lá... donde, ''passa'' no tal exame. Quando estudava nas imediações da USP, por um motivo que não vem ao caso, ficava sabendo, por exemplo, que a residência estava aberta à concorrência, mas não entrava ninguém de fora, da faculdade local, por incompetência. Claro que está em causa não exatamente as habilidades médicas dos médicos que virão intravenosamente ou a conta-gotas, mas questão de poder, então não existe argumento de partes que se confrontam! tais argumentos servem aos indecisos, por imbecis, quais forem, pois quem tem posição tomada, por ideologia ou alienação, que dá na mesma está empacado, como eu e você!

Seleção gerúndio

Seleção gerúndio.  

Como não temos dois laterais que marquem pelos seus setores, necessitamos da ajuda de dois atacantes, e como são atacantes não sabem marcar, então precisamos de dois centro-campistas para que  também façam isso.
 Isso o quê?
Marcar, uá!
E se tivéssemos dois laterais marcadores?
Bom, no caso os atacantes iriam estar atacando, e os centro-campistas iriam estar fazendo o meio!
Igual usar três verbos para uma única ação?
Exatamente!
Ah! até o futebol brasileiro gerundizou! Mas vamos estar torcendo!
Vai estar chorando?
Eu, não sei, mas eles um vale de lágrimas.... como choram estes rapazes!

Por Circe, Porcos.

Porcos.
Enquanto  criança,  era equilibrado, vivia sensivelmente, o presente. Bastou crescer, para passar a procurar o equilíbrio, entre a ação e repouso, o otimismo e o pessimismo, tensão e relaxamento. É frequente querer que tudo fosse melhor e diferente. A mente sempre em seu monólogo interior, que, a mim afasta da literatura, gerando confusão e aflição. A pós modernidade me pede a construção de um "eu" único e irrepetível. Se possível imortal. E atrás desse objetivo me  distancio da consciência saudável e profunda. Por tanto, é estranho encontrar quem está no caminho da  paz e da calma em meio a essa odisséia que é a vida, encontrar ou não sentido para tanto e se pode ser real e formadora. Ou de outra, devemos nos resignar, e como os amigos de Ulisses sermos transformados por Circe em porcos.

27 de jun. de 2016

A primeira carta a El Rey.



Senhor meu, El Rey, nesta terra descoberta há uma geografia exuberante aonde  floresce calhordas e falsários nas regiões da Perícia do Sul, nos Fiscais do Norte, na Auditoria do Leste, e nos Tribunais de Contas do oeste. Nos vales insondáveis das Corregedorias setentrionais impera o cactus da cegueira ética. 
Por todo o  território encontram-se bem distribuídos aleijões morais de mil matizes e cantos. Há pradarias  por onde desabrocham desmandos armados e covardias gilmarencas, como se fossem cascatas, sempre que faz calor, mas principalmente quando os rios dos esgotos da petulância exalam seus cheiros e o povo tapa o nariz. 
Covardes e sinhozinhos se banham nos riachos de todas as veredas. Incompetentes são frutos que nascem em pencas, nas encostas, nos vales, à beira mar, nas reentrâncias de manguezais e em rios intermitentes. 
Nos picos mediáticos podemos avistar os eternos rufiões da pátria, imponentes na sua brancura, jamais degelam.
O mais espantoso, senhor meu El Rey, são os desertos dessa terra, como jamais se viu, aqui estão densamente povoados, com a mais genuína diversidade de delinquentes, malas-artes, bandidos, facínoras, biltres, bigorrilhas, birbantes, bisbórrias, borra-botas, cafajestes, canalhas, mariolas, meliantes, ordinários, pandilhas, patifes, safardanas, salafrários, sicofantas, súcios, trastes, tratantes, choldras, cínicos, corjas, crápulas, desbriados, gentalhas, ignóbeis, indignos, miseráveis, pulhas, ralés, sacripantas, arruaceiros, baderneiros, bagunceiros, bochincheiros, briguentos, mazorqueiros, rusguentos, turbulentos, malandros, bilontras, parranas, rufiões, sornas, vadios, vagabundos, velhacos, desgraçados, marotos, pícaros, safados, trampolineiros, ardilosos, caborteiros, embusteiros, facetas, jingotes, ladinos, maliciosos, manatas, muambeiros, repassados, sabidos, solertes, tainadores,traficantes, trapaceiros, treteiros, zainos, gatunos, malandros e desonestos.



Fazer o quê? Nada! Gosto de Copa

Fazer o quê?
 Nada!
 Gosto  de Copa.
 Gosto de tudo da Copa. Gosto do narcisismo do CR7, da cara de quem sentia dor de hemorroidas durante estes três jogos. Gostei que nenhum português o tenha abraçado depois do gol que fez.  E o gardenalissimo Pepe? Do autista Messiânico, será que o Mascherano está garfando nessa marmita? Gosto do : “Vocês que estão falando”, do Neymar. Do peladeiro solteiro contra casados Pirlo. Ninguém me ama ninguém me quer do Balloteli. Gosto do cara que faz um gol no começo do jogo e faz sinal para a torcida adversária se calar, e depois perde a vaga das oitavas e desaparece junto com sua seleção. Gosto da potência impotente silvestre sem enrolação dos africanos. Gosto do ford-taylorismo coreano e japonês, quando bola se joga em toyotismo, benchmarking, justing time. Gosto da baianidade alemã, dada pelo turco, senhor nassib Özil;  gosto até daquele cantar: ,,, com muito orgulho... muito amor, é cântico premonitório de derrota, igual canto de coruja, urutaus ou mãe-da-lua... cântico de solitário que se amarra com ele. Não é o cântico que se eleva dos indivíduos singulares para se fazer coletivo, não; a canção é maior que o indivíduo que desaparece , sem esperança, nela, e por isso gosto, ou apesar disso gosto. E o que dizer de Allahu akbar que milagrou em terras de outro deus. Pordeus, os árabes são carolas! Fazer o quê? Gostei do castigo imposto à Espanha, que pensava ter resolvido o medo das investidas adversárias ficando com a bola o tempo todo. Gosto porque nada dura duas Copas seguidas, só  mesmo no tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, tempo do Garrincha... a Laranja mecânica não durou nem uma copa toda. Bem agora teremos a possibilidades dos penais, que ressuscita apenas um dos mortos.  Começa amanhã.

Ciúmes

CIUMES!

Ciumes! Bah! Retorquia cruzando pernas e ancorando lateralmente o cotovelo à mesa como intelectual em café filosófico, o que não quadrava à sua rudeza campesina, nem o fato de haver lido Un Coup de Des no original podiam polir aquele moerão de cerca. Se não é ciumes, então me diga o que é? Insisti. Então fazia coincidir sua aparência com os gestos, abrindo as pernas, dava uma coçada exuberante na genitália, solta, a proposito de sua calça preta de linho, acendia o Marlboro como parte integrante dele, e o deixava queimar sozinho no cinzeiro. 'Imagine a cena' me dizia e tudo em seguida a compunha “ Estávamos a ver o joga da Alemanha e Portugal, e a de pronto fiquei contente por ela não ser uma admiradora do Cristiano Ronaldo, mas porra! Nélson, achar aquele comedor de ranho... que comedor de ranho? … o  Lőw! Que tem o Lőw ? Um charme! Pode, meu velho?

26 de jun. de 2016

Aonde nascia o Estado Laico!

Mateus 22.21 a César  e a Deus! Igreja x Poder!
Frase fundamental ao que se julga Cristão: ao Caeser o que lhe é devido e a Deus o que é de Deus.
Hoje muitos são os que se indignam quando veem  resplandecer além da cruz a simbiótica relação da Igreja ( seja ela qual for) com o Estado. Espirito x Matéria. Muitos são os que apontam para um passado ainda mais denso de corvos, bruxas e por conseguintes: Torquemadas, aonde o Estado era a Igreja, se quiser a Igreja o Estado. Dizem isso fazendo cara de quem viu o técnico da Alemanha comendo ranho de colheita própria. Me lembra o poema drummondiano: enquanto os adversários querem provar alguma coisa, o treinador tedesco tira ouro do nariz, mas o que não disse Drummond  é que o comia.
Muitos teólogos dirão: o humano  ao ser expulso do paraíso teve separada a carne do espirito, e com isso a humanidade deve peregrinar – uns mais que os outros – pela terra, afim de purificar-se  do pecado 'original'. Segundo Kant tal purificação é mais impossível que improvável, dado que o processo de purificação deve se dar na eternidade, e se dividirmos a eternidade ao meio ela não é metade eterna, mas sim eternidade inteira. O que se deduz é que a eternidade não tem fim, nem o processo de purificação, nem juízo final, pois não há final possível.  De tal forma que ficamos sem saída, da mesma forma que encontramos a prisão perpétua, perpétua de menos para quem matou um dos nossos. Daí que Deus, que tinha grande apreço pela tal maçã, nos envia à Terra, povoada de cobradores de pedágios de vida e de impostos: os  Zaqueus. Mas como criador de problemas, também cria suas devidas soluções, nos apresenta seu filho. Ele nos dirá: deixem o homem descer do telhado, ele faz o seu trabalho, deem o que lhe é devido. Neste momento nasce, mas particularmente creio que já vigia, o Estado Igreja. Jesus poderia ter dito: Somos filhos de Deus – todos –  Zaqueu inclusive,  nem mais nem menos que um de nós – e quem fez a Terra  e tudo que nela habita. Foi nosso Pai quem tudo fez, assim que não devemos nada a este tal de César! E continuaria: Você Zaqueu deveria passar para o nosso lado! Pois você estará em companhia dos filhos de Deus! E os filhos de Deus, que é nosso Pai, criou de tudo, mas não criou impostos. Ou será que criou?

Infelicidade

Infelicidade.
Comecei por pensar em narrar um exemplo da infelicidade de alguém, mas a medida que passava o tempo,  e este início improvável que  não previ para o texto e os pequenos momentos de felicidade desta tarde, me levaram a adiar tal empresa para o passado, desde o passado perderá as rugosidades e quinas dentuças, e mais, a quem importaria a infelicidade dos outros, se não posso fazer nada para anulá-la?
Compartilhá-la?
 Sigo tossindo, continuamente, noite e dia, mais à noite. Como começou subitamente, sem aviso prévio, sem sintomas, um dia ou outro desaparecerá, assim que o fim de semana...

Popatapataio

Popatapataio. (sem pedir permissão ao Osvaldo, Flavio e trupe)

A liberdade se parece muito ao “ser” de uma criança numa vila, como Bonfim, para dizer uma.   Descobrir o mundo sem mais normas que estar em casa nas horas  da comida e não jogar bola depois delas. Uma felicidade selvagem,  como nos advertem Tom e Vinicius “... tristeza não tem fim, felicidade sim”, tem data para caducar. Um dia não se sabe bem por quê, os aborrecimentos se tornam soberanos e já não se sente livre e feliz. O universo de fato sem fim, que não se abraça, se converteu numa prisão, e já não bastará passar mertiolate ou popatapataio nos joelhos, no máximo é ir tirando crostas sem pressa para não sangrar.

25 de jun. de 2016

Felicidade

Trecho de um livro que, não  juro que não li, criação e esquecimento.
Dizia Ratão, ao dono do boteco, homem de jaleco azul e pele cor de vela: Uma coisa interessante, Tonho,  que não sai de minha cabeça, e algumas vezes a atiro em  forma  afirmativa, sem primazia claro:  somos todos iguais, e não tardam em  aparecer os enxames à negá-la, uns com argumentos, outros sem argumentos, estes me desqualificam; no entanto o mais incrível é que a luta da vida inteira deles é justamente essa: ser igual a todos os outros, copiam suas meias com sandálias de pescador, seu carro preto, sua casa assobradada, seu problema condominial; ao passo que luto para ser diferente, partindo da igualdade.  Nós já resolvemos o problema da felicidade, não é mesmo?

Ruthinha e o Hoplita

Ruthinha e o Hoplita.
Descia pela Santa Luzia, e quando cheguei à descida da Amador Bueno, pensei... sim desço a ladeira e sigo em frente, mas ao descer me encontrava na Baixa do Sapateiro, pensei... subo à direita e voltarei ao início, mas ao dobrar à direita estava sobre os trilhos do Eléctrico, Garcia da Orta, fitei o Tejo, não sei,  e pensei que... seguindo os trilhos, mas não, era o Morro da Conceição, com vista para a Ilha das Cobras, desci suas escadinhas do velho cais do sal e estava diante da barbearia do China, achei que era a Ruth sentada dentro da túnica branca, Paulo! Ela  disse seca e suavemente. Olhei e era a Ruth, e o China me reforçou, a Ruth te chama, ela pagou... e saímos... me perguntou por onde ia... disse: mais com um meneio de cabeça que com palavras, que ia à casa, que era só descer ali e virar lá e lá estaria, com um donaire nos separamos ali, mas ao dobrar, estava na Couraça dos Apóstolos em Coimbra, contornei-a e ao pé da Sé Velha, avistei um mar azul sem igual, olhei para meus pés que pensei calçassem umas havaianas brancas que comprara num ilha do Peloponeso, que, pordeus, eram umas sandálias  e  greva de couro que subiam pelas canelas até os joelhos, pés e canelas imundos, unhas grandes e muita lama sanguínea sob elas, um grande escudo redondo preso por duas argolas de couro ao antebraço... despojei-me do elmo, couraça, escudo e uma lança de madeira com ponta de bronze já partida... Micenas destruída, abandonada... Não há casa para voltar, nem Penélope... Odisseu! Não, não o Odisseu cantado, homérico, mas proto Odisseu, o derrotado que deu origem ao mito séculos depois...

24 de jun. de 2016

Brexit

Brexit: à falta de inteligência política, se recorreu à maioria.
Não sei se se pode traçar um paralelo no caso Dilmexit! No caso Dilma faltou inteligência política, mas não se recorreu à maioria, por isso é um golpe. Mas esperar o quê, de uma maioria?

Pena Capital

Pena Capital.

As vezes penso que nesse teatro escolhi ou fui escolhido para ser o Covarde. Covardia que chamo de entendimento. Desde os 17 entendo não ser possível brincar de traficante no Oriente, seja lá o que for o Oriente. Por essas e outras aceito o dito riobaldiano: Viver é perigoso. Por obvio, não vivo, discuto a metalinguagem desse teatro absurdo numa mesa de Café com o café frio, enquanto o café quente sempre chega fumaceando, na mesa dos que erram a cena

23 de jun. de 2016

A Condição Humana...

Vivo num país corrompido, entretanto, não quero perder o sentido do verdadeiro e do falso, do correto e do incorreto. Por vezes me pego pensando na laicidade, mas não é o barato, o barato é a mafiosidade. O centro dos problemas está num Estado Mafioso. Instituições Mafiosas. Alem das instituições do Estado, a sociedade civil se organizou mafiosamente. Sem medo de ser leviano, há máfias até de máfias. Com isso, e com esse descampado de máfias, não quero botar em dúvida a existência do bem e do mal, porque seria um álibi para os mafiosos.
Com isso, sem querer, toco neste silêncio oceânico da sociedade civil de auto-indulgência, sabendo que estou sendo repetitivo.
Fala-se muito em educação. O tempo todo: “ Precisamos educar”, “as crianças... futuro da nação”, “Educação....” . No entanto, me parece notório, que nunca tivemos tanta gente que passou pelos bancos escolares, tirante Lula, o Analfabeto, a corrupção no país é comandada por gente diplomada, PhD's...

Uma reflexão de cadeira de balanço, nos dá a dimensão da condição humana. 

Procurando não achar

Hoje li. Li sobre o MP na consttuição, aliás pouco, o parquet é o guardião da lei, mas li artgos de pessoas do setor, contras e favoráveis a pec.  Sou favorável a todos os pec ados, com moderação, menos o sexo e a preguiça. Li sobre nascituros. Li sobre médicos, li até umas dez páginas do Grundisse, onde trata da produção e duas páginas sobre a cultura grega, porque os gregos eram miseráveis (materialmente) mas justo daquela miséria brotou essa nossa cultura. Descontente reli um pedaço d'Ulisses de J.J. onde o cidadão se define como estado, ai por força fui buscar un trcho do Caio Prado Jr, onde este sentimento mazombo subjacente recebe luzes da economia real. Mas a pergunta que me fiz... continua calada...

Diógenes, o da síndrome.

Diógenes, o da síndrome.
Como se sabe, Diógenes, depois de sair com o povo da sua cidade nos seus calcanhares, acusado de falsificação de moeda, viveu durantes anos em Atenas, sua casa era um barril de carvalho francês, uma das habitações prefabricadas  mais procuradas de sua época e ainda atualmente muito apreciada no setor vinícola.  Como também se sabe, Diógenes se caracterizava pela busca de prescindir de tudo aquilo que era supérfluo; não sei se por isso, mas se chamava o cachorro ou o cínico, que é o mesmo. Também é notório que frequentemente circulava pela cidade, a primeira hora do dia, com uma lanterna de óleo, procurando um homem honesto; nunca o encontrou, de modos que ao final, passou a catar tudo que lhe parecesse ter algum interesse e coubesse no barril – de carvalho francês -  até o ponto dele lá não caber e ficar à porta.

Fio d'algo!

Dilema de Chifres.
Escapar de um chifre, te leva ao outro.
Fidalgo, figura imortalizada por Cervantes, que representa um protótipo ainda vigente. Os fidalgos eram filhos de algo, neste contexto indica riqueza de alguma maneira. Era o mais baixo grau de nobreza – frequentemente durangos – adquirida como uma doação por serviços, ou por outros motivos. Um fidalgo famoso foi o Fidalgo da Butega – braguilha -  por haver engendrado sete filhos machos.

Impostura.

Impostura...

Os sons penetram desde o exterior, música longínqua, carros, motos estridentes, ar-condicionado, uma coruja chirriando, me despisto. Saio ao terraço, o calor minguou, olho pro céu, estrelas, lua, a moça na calçada, reflito sobre a moça na calçada, brevemente. Sensação de sede, mato a sede, me pergunto, mas e se não for sede?
 Desde o terraço, o ar invisível, estático, seco, a lua escondida pelas nuvens, apenas busca o horizonte. Numa cadeira de plástico branco, uma moça imóvel, iluminada pelo clarão da luz do poste, as mãos juntas, o olhar perdido, sonha ou espera.
Desejo de comer uma fruta fresca, mas e se não for fome?
Noite de janelas abertas, ar quieto. Gols longínquos, luz baça de lua, música incerta. Sons apagados do fluxo dos carros, de motos aceleradas. Ruído de ar-condicionado. De quando em quando um pio incerto de ave incerta. Coruja?  Claro é que os lençóis vão por baixo, mas tanto faz, nem faz calor nem faz frio.
Desejo de sexo, mas pode ser mais uma impostura!

22 de jun. de 2016

Dilema com chifres

Dilemas com chifres. A cloaca, invenção inglesa, muito têm  contribuído a que nos afastemos  de nossa humanidade, a merda. Obrigatoriamente feita, por todos. A cloaca nos impede de vê-la. A merda diz muito de nós, a coprologia vige, O mundo é uma bosta que vai à merda pela cloaca inglesa.

Dupla Confissão

Na inauguração do novo salão paroquial, erguido por toda a comunidade, o prefeito se atrasou. O pároco diante de uma audiência já impaciente pelos salgadinhos da sequência, tomou a palavra. “Como vocês sabem, faz vinte antos que cheguei a esta paróquia e estou entre vós, naqueles dias, tinha cá comigo, que era um castigo do Sr Bispo, no entanto a primeira confissão, recebi um jovem que me alentou... ele então se confessava um jovem problemático, que infernizava a vida de seus pais, que o carro que tinha era fruto de uma estafa, que traia seu melhor amigo – saindo com a mulher dele – …”  neste momento chega o prefeito, esbaforido, apertando mãos, batendo em ombros, sorrindo a torto e a direito, prometendo ajuda... subiu ao palco improvisado e fez seu improviso, “Concidadãos e Concidadãs. Desculpai o meu atraso, as obrigações são muitas e o tempo nem tanto, e para tentar chegar à hora marcada, inclusive, cruzei um sinal vermelho, por sorte não havia um marronzinho, esperou por e alguns sorriram em cumplicidade, outros nem tanto, mas continuou “ tudo para estar no meio de vós, e poder me congratular com todos vós pelo antigo anseio realizado, o salão paroquial, que muito por ele batalhou o Sr Padre, que diga-se de passagem, fui o primeiro  a se confessar  com ele... O

21 de jun. de 2016

O Estresse Só Faz Bem, ou Politeia.



Para mim, não é importante se estou de acordo ou não com outro, ou com um pensador, seja ele conservador, liberal, progressistas, marxista, etc. O importante, para mim, sublinho, é que o outro, o pensador outro, é que me estimule a pensar e a desenvolver argumentos, inclusive contra ele, e acimadamente contra mim. Não me dou ao luxo de ignorar nada da história, da minha história, da nossa história.
Enquanto povo, a nação, me parece, vai melhor se esta tensionada, diariamente um plebiscito contínuo, não esse de criar leis constitucionais, mas de se esfolar como um seixo no caudaloso estresse do embate. Um fluxo constante, intenso, de temas estressantes, ajudam a sincronizarmos nossas consciências, nos regenerando.
As redes sociais muito tem colaborado com isso. É um avanço tremendo sobre outros meios, como tv, jornais, aonde não ocorre o embate. Seja qual for o direcionamento dos meios de comunicação convencionais, eles emitem um sinal, e o receptor deste sinal quando muito abana as orelhas, ou rumina a mensagem, sem poder emitir uma resposta, não estressa a relação. Esse era o nosso quadro, nosso fotograma até outro dia, no entanto hoje, a tudo que se diz, haverá um receptor que se transforma em enunciador e truca sobre o argumento.
Assim, juntos formamos um corpo, um macro corpo nação, psico-político-ético-estético, ou comunidade, aonde as preocupações - mesmo que induzidas mediaticamente, que é um ótimo papel para os meios de comunicação - estressantes, vibrantes, criando uma espécie de neurose coletiva, uma alma coletiva neurotizada. E não se pode negar, pelo que temos visto nas redes sociais, que criamos força de coesão, partindo da sensibilidade coletiva ao agravo, à injuria, ao insulto, à injustiça....
A natureza, que deu aos indivíduos amor próprio, não negou este mesmo amor aos povos, à comunidade; e também a capacidade de celebrar, festejar a si mesmo.
Do estresse que temos vivido, talvez, iremos à festança, porque nos amamos como brasileiros, e temos muitos motivos para celebrar; assim como temos muitos motivos para nos estressarmos. Não é questão, acabar com a briga, é brigar até chegarmos à nossa praia. Pode parecer chovinismo, mas é mais interessante estar perto do chovinismo que perto do desinteresse pelo outro, seja ele qual for.
Por mais modernos que nos queiramos, por mais autônomos, por mais ousados, como sujeitos que cremos que somos, estamos sempre sujeitados à algo, cultura, hábitos, costumes, estética, ética, que nos precede, e como diz o ditado: bailamos conforme a música, ao mesmo tempo que criamos música.


Christopher Lee.

Ainda ontem morria Christopher Lee. Minha lembrança é de quando emprestava sua cara de pouca carne ao Drácula, e me fazia tremer no Cine São Roque. Dracula, o marcou e com fogo. Mas sua cara ossuda, queixo anguloso, cabelo para trás, têmpora funda, olhos a beira da ira, lábios finos, emprestou  a outros malvados do cine b que gostava e ainda gosto, Fu Manchu ou Cinema com "C" como A vida privada de Sherlock Holmes, O cão dos Baskervilles, sempre no lado fosco da alma humana e a gravando em bold negrito, até o fundo do poço, que é de onde se vê melhor o mundo. No entanto Lee dava a está alma um olhar nobre e firme, ao tempo que angustiante e desesperada. Emprestou essa cara de alma profunda a westerns que ainda me matam.
Eu o recordarei fazendo Drácula e alguns filmes aonde sua personagem nem falava e os roteiros também não eram grande coisa, muito parecidos com a vida, por sinal. O Drácula que desaparecia na casa escura e surgiam  aquelas mãos de dedos finos e infinitos como punhais, ensanguentados, sempre que a vítima de plantão abrisse um armário em um quarto gótico. Sempre surgirá uma cara dessas ao abrir armários, a me assustar.

20 de jun. de 2016

O Tempo, a Memória e o Amor.



Seu velho cheiro renovado,
anda próximo e se mistura
a tantos outros, se não, fica
mais sentido que  confessado.

Sol a entrar como riscas,
Olores de terra molhada.
A lenha estalando faíscas
das bondades eternizadas.

Velho manjar com cheiro
novo, manteiga a chiar na chapa,
lábio acariciado, beijinho
palavras esvaídas, gestos
ao vento, pensados e ditos,
a voltarem em remoinho.

 cidoGalvao

De volta ao passado

De Volta ao passado.
Este título me leva aos anos setenta. Ao cine São Roque, que já não existe. Não vi a trilogia De volta para o futuro, sei que é trilogia porque dei uma passada na Wikipédia. Enfim me levantei, quando as luzes acenderam, então fiquei vermelho, sei porque meu rosto ardia, rubor, vergonha pelo modernoso que me vestia, com um salto de 5 cm e uma calça boca de sino que fora ampliada num costureiro do primeiro andar do Diederichsen... foi suficiente. À memória, lhe agrada deixar um rastro de milho, caso se perca, por dúvida. As recordações se escondem em labirintos, aonde a volta ao passado é uma sequela da volta ao futuro. Uma má leitura da Wikipédia pode te dar razão. Mas o certo é que olhar para trás não é fazer um levantamento da ata notarial de uma vida. Fico com essa: “de pequeno, podia recordar qualquer coisa, sem me importar se houvesse acontecido ou não”, isso é tanto Mark Twain, quanto sou sósia do Ingo Hoffmann. Mas o retrovisor distorce. Mais que um espelho outro qualquer, e por isso é um caleidoscópio que joga com as sombras do que se foi. Escrevi o título pensando nos anos 70, não nos meus anos 70, mas nos 70 possíveis com este
 retrovisor, porque senão o passado retornaria ao futuro como um bumerangue vingativo, ou então como se os quatro cavaleiros do apocalipse aparecessem de surpresa a fungar no meu cangote. Não é verdade, pensei no título depois que o facebook – me oferecendo novas amizades – perguntou se eu conhecia uma determinada mulher...

18 de jun. de 2016

Mosca no copo de cerveja.



Uma mosca voava pelo bar do Guinô, guinorante. Não é uma coisa difícil de acontecer, já que há um galinheiro ali por perto. Nem sei se galinheiro atrai moscas, suponho que sim, isso para não botar defeito no asseio do bar dos outros. Enfim, havia uma mosca rondando. O Magnata, o mecânico do meu fusca, é um sujeito vivido, “atrapaiado” e levado da breca me disse: o que faria se a mosca caísse no seu copo de cerveja? Fiquei pensando. De pensar morreu o burro disse ele e foi logo dizendo:
Se fosse no copo de um italiano, ele armaria logo um barraco, um escândalo, um forfé. Concordei.
Se se tratasse de um alemão, este pediria outro copo, esterilizado, bitte! Concordei na hora.
Se fosse de um francês, meteria o dedo no copo, tiraria a mosca e beberia a cerveja. Bem sacado, disse.
Se fosse um chinês, comeria a mosca e jogaria a cerveja fora.
Caguei de rir.
Se se tratasse de um cubano. O cubano beberia a cerveja com a mosca e tudo, acreditando que estava recebendo uma mosca de favor de Fidel. Pensei o mesmo de um monte de gente. Mas caiu bem.
Então me perguntou, e se fosse um judeu? Te juro que supus, mas deixei para ele mesmo responder, então ele disse: o judeu venderia a cerveja ao francês, a mosca ao chinês, o copo ao italiano e pediria um chopp com o dinheiro da venda e desenvolveria um sistema para acabar com as moscas do bar do Guinô, para que isso não acontecesse mais. Caguei de rir.
Então perguntei: e se fosse um brasileiro? Ele riu e disse: um coxinha acusaria o governo do PT de emporcalhar tudo, e faria tanto alarde que sairia no jornal da eptv do meio dia, seria capa da veja com uma mosca lula zumbindo pra lá e pra cá, enquanto os petralhas tentariam explicar que a mosca já havia pousado em outros copos, e um outro tipo, mais experto, já teria chamado o garção e diria que não pagaria a conta por conta daquela mosca horrenda que caiu na cerveja. E dê-se por feliz por não entrar com uma ação de perdas e danos....


Xico ãÃo, os gatos veem fantasmas.



Primeiro pensei outro nome, Jabberwocky, em homenagem a um poema surreal de Lewis Carroll, que não entendo, mas desisti porque ninguém ia entender o nome, e muito menos a explicação, e tampouco Jaguadarte não teria o mesmo efeito, a menos que empostasse a voz como Augusto de Campos e recitasse:

Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.”
A solução saiu do Tamanduá Tão, tampouco fácil, e o gato se chamou então Xico ãÃo. Xico ãÃo, as vezes, me olha fixamente, como se mirasse para o nada. Imóvel. Outras vezes para um ponto escuro no corredor, aonde não há nada e ninguém. Dizem que os gatos podem ver fantasma... Toc, Toc, Toc. Alguém bate com os nós dos dedos à porta. Não tenho campainha. Há muitos moleques fazendo molecagem ao sair da escola aqui perto. Mas tenho olho mágico, e se trata de um casal jovem com uns óculos ridículos, uma pasta cada, e umas roupas, deixa pra lá. São de um tipo de IBGE, dizem e vão direto ao assunto: “ Viemos aqui porque o senhor é um fantasma” e continuam “ dos de verdade”, engulo seco e eles detonam “ vaporoso e que transpassa paredes”. Arregalo os olhos. E voltam à carga “Não sabia?”. Balancei a cabeçorra, “Não”. E eles “Fique sossegado, que o senhor não é o único”. “ Dê graças a deus por não ser um vampiro” disse a moça. “ Seria péssimo para o senhor e os vizinhos, já vimos cada caso... fazem cruz com os dedos sobre os lábios” disse ela e deixou escapar um risinho. Ri ri ri ri!! Volto a ficar nervoso e tentar engolir saliva, que não há. O rapaz me pergunta se tenho notado coisas diferentes ultimamente, coisas estranhas, fenômenos elétricos. Bem, eu disse, quando apago as luzes para dormir vejo umas luzinhas verdes, como se fossem caga-cebos. “Tá vendo!” exclama o jovem e logo apontando com uma caneta no formulário sobre a prancheta. “Resplendor residual de fótons” e explica “ Parte de seu ectoplasma fica preso à lampada e se libera ao apagá-la”. “Miau” intervem Xico ãÃo. É sua hora de comer. Mas se meu gato me vê! Não vêem que ele me vê e pede comida? “Os gatos podem ver e perceber entidades fantasmais” disse a mocinha empurrando os óculos com os nós dos dedos. “Nós o vemos devido às lentes especiais de nossos óculos, que captam a aura electromagnética.”

Pediram meus documentos, anotaram os números e pediram que assinasse no x. Assino e pergunto: Como devo me comportar daqui pra frente?. “Com naturalidade, seja, seja etéreo, passe pelas paredes e coisas assim, divirta-se.” Me deram a mão, e ela disse “ Ui, é como tocar uma nuvem!” e novamente escapou escapou o risinho. Ri ri ri!. Fecho a porta. “Miauuuu” reclama Xico ãÃo, sempre sendo exigente e pontual. Vou para a cozinha varando paredes. Sinto algum gosto de cimento e areia. Tinta látex. Dou comida ao gato. Passo pelo muro, entro pela cozinha do vizinho, que come arroz com salsicha e coentro. Ainda não tenho prática, claro que agora me sobrará de muito tempo.  

Mudança Climática. Clímax.

Mudança Climática.

Há duzentos anos não houve verão para os europeus. Um ano antes de 1816 o vulcão Tambora produzia a maior erupção na história da humanidade, na Indonésia. As nuvens de cinza e enxofre lançadas na atmosfera se espalharam pelo mundo e no hemisfério norte bloqueou a luz solar. Por toda a Europa se produziu geadas naquele junho. Na América do Norte o milho não granou pelas baixas temperaturas, provocando fome e morte. Nesse ano, Edgar Allan Poe viajou para a Inglaterra e ao chegar se depara a uma paisagem insólita: icebergs por toda a costa inglesa. Arthur Gordon Pym sofreu influência desta visão gélida.
Um dia, nesse verão que não houve, se reunirão o poeta Percey Shelley e sua esposa Mary Godwin, Lord Byron e seu médico, o doutor Polidori. O encontro se deu em Villa Diodati, mansão de Lord Byron na suíça. Inspirados por aquelas condições sinistras de mal tempo e chuva incessante surgiu a ideia de que cada um escrevesse um relato fantasmagórico. Polidori escreveu “O Vampiro” que inspiraria a Bram Stoker e seu “Drácula”, Byron compôs o poema Darkness, Escuridão. Mary Shelley contou a história de uma criatura tremenda, um tal Frankstein, cujo título era “O Moderno Prometeu”.

Se fizer mal tempo, amanhã, quem sabe crio um desses...  

14 de jun. de 2016

Dia dos Namorados.






Entre eles, o que havia, não passava de sexo pagado. Mas Rud repetia a escolha, por preguiça e hábito, se alguns momentos de ternura, se aviava por somar à confusão daquela equação, a insistir numa igualdade monetária. Entretanto no último dia dos namorados, quando os corpos se apartaram e assim olhavam as estrelas giratórias daquele céu rebaixado, Vivian suspirou profundamente, Rud quis saber com rabo d'olho e foi estremecendo enquanto ela dizia “ Sabe Rud! Hoje, você me fez sentir... sabe... até hoje não havia sentido, uma vontade que vem desde as profundezas de mim, me enche o peito, que não sei bem o que é, sei que é bom, queima o meu rosto e é agradável... me enche de esperanças... me faz sentir...!” Rud tombou a cabeça, coçando o ombro com a barba por fazer do queixo, esperava ver naquele rosto conhecido o laqueado cinismo, mas se deparou com a doçura inquietante e desesperada de lágrimas formando poça no canto do olho.

O Dia que Fiquei Negro.


Hematoma!
Ele disse ele ao médico, tudo começou no campinho, 'na pelada' da semana passada, numa bola alçada pelo goleiro deles, que vinha na minha direção, descreveu a parábola costumeira, e antes de seu ponto de inflexão, fui tomado de antiga fantasia, não outra que a de dar uma matada à Ademir da Guia... o corpo todo inclinado para frente, o pé de apoio na vertical o outro recebe a bola, ela primeiro tangencia meu peito e assim segue até o pé que se afasta, alinhado com o corpo, afastado, o pé recebe a bola como se fosse uma colher e com ela ali presa e assossegada se desloca para trás para não haver rebote. Enquanto sonhava, o brutamontes do Dudu pisou no dedo mindinho. A unha não caiu, mas ficou negra na hora, ou preta se preferir. Segui as instruções do arrependido Dudu: água quente, gelo, beladona e enfaixe.
No dia seguinte, quando tirei a faixa, todo o pé estava preto, ou negro se preferir. Continuei com as compressas, que o Pedrão da farmácia, um farmacêutico prático recomendou. Trabalhei todo o dia e ao voltar para casa e ir à ducha, estava negro, preto até o umbigo. Não tinha coragem de me olhar. Não sentia dores, mas tomei diclofenaco, 'na dúvida' como disse Júlia e carinhosamente me recomendava repouso, enquanto me acariciava para me acalmar. Havia algo diferente em Júlia, um ligeiro contentamento mal disfarçado. Aqueles cuidados, aquela atenção de quem tinha mais a dar que sugar, fizemos amor, algo diferente acontecia. Dormimos. E voltamos ao sexo na madrugada, ela irradiava prazer. Ao despertar outra vez nos amamos, e foi quando vi que estava, assim! Como vê, totalmente negro. Mas, e ela? Perguntou o doutor. Ela! Repeti. Sim ela. Bem! Ela disse: 'Mor! Vai ao médico, peça uma semana de atestado! Vai!

13 de jun. de 2016

De Golpe, Um Golpe de Morte


Umas
Armas
Urnas
Almas
Desalmadas
Desarmadas
Desumanamente
Uma alma um voto
Uma arma derrota
Uma urna uma alma
Devota
Humanamente
Uma alma na urna
Uma arma uma a uma
Uma Descarga
Descarna

10 de jun. de 2016

Exílio Cultural.

Tenho uns amigos de esquerda, humanistas, que detestam a palavra Civilização, e mais propriamente Civilização Ocidental. O fato é que não nascemos civilizados, seja ocidental, oriental ou pré-Cabral. Temos que nos educar. Havemos de educar nossas crianças. Sem essa educação, digamos ocidental que é a nossa, que teve seu amanhecer lá na Grécia, não há como dialogar. Como uma pessoa que não lê, não leu, não foi educada irá dialogar – trocar (interlocutores) opiniões, comentários etc., com alternância dos papéis de falante e ouvinte; conversar. – se ela está exilada da cultura ocidental. Se não entende o grande diálogo da nossa cultura. Temos que ler, ainda que não haja nenhum livro indiscutível ou sagrado. O único sagrado é o diálogo. Se os jovens são privados de acesso a esta grande conversa cultural, eles não serão outra coisa que estrangeiros da própria cultura. As chaves são aprender a ler, escrever, falar, escutar, compreender e pensar. E pode muito bem ser a tarefa de uma vida inteirinha, qualquer uma delas. Porque todas são difíceis e as dificuldades não nos dão nenhum privilégio. Ao trabalho.

9 de jun. de 2016

As nuvens mais lindas, eu vi.

Eu lembro mais ou menos desta redação no ginasial, com mais ou menso linhas, talvez, cara no lugar de rosto, capataz por supervisor e por ai vai, a ideia permanece virgem. Sempre havia redação depois das férias, e em outras ocasiões também. Então a professora escrevia na lousa: Descreva um dia de suas férias. Estou deitado ao sol, sobre um monte de feixes de varas de bambu que usamos para envarar tomates.  É a hora do descanso no café da tarde. Á sombra faz frio.  Estou com os braços cruzados sob minha cabeça e o chapéu de palha sobre o meu rosto, esconde o sol. E pelos buraquinhos das tranças de palha do meu chapéu vejo as nuvens. Todos os meus tios e primos estão a jogar cartas sob o rancho de sapé. Descansamos de uma manhã de muito trabalho. Orlando, meu tio mais novo, grita: Olha lá o supervisor de nuvens. E todos riram. Logo voltávamos a trabalhar, e eu segui com meu pensamento nas nuvens e sei que não voltarei a ver nuvens tão bonitas.

Alguma vez eu disse que viver é narrar?

Alguma vez eu disse que viver é narrar?

A vida é uma intuição narrativa. Posso somar: transcendental. Quero dizer com isso que seria impossível viver exclusivamente dos nossos dados atômicos, nossas ligações de hidrogênio e carbono e nitrogênio e oxigênio, e suas questões energéticas e nossa matéria. Somos seres narrativos. Vivemos graças a que unimos nossos dados com o sentido que lhes damos ou procuramos dar. Definitivamente, é o que nos empurra de um dado a outro dado transformado e vamos de sintagma em sintagma criando a narração. Não importa o que fazemos, tramamos narrações, dessa forma, vivemos em meia a essas tramas. A literatura é a arte da narrativa que trama a encontrar algo que nos console. Dessa forma, melhor será a vida, para mim, se eu for um bom narrador dela, da minha vida. Concluo que, se leio muito é porque sou um narrador medíocre da minha vida.


Esta Noite vou dormir com meus fantasmas.

E-mail.

Ontem enviei um enésimo e-mail pra C, reclamando de umas fotos que não estavam ou não deveriam estar na partilha, por nada, serem fotos de minha pessoa. Que por mais irrelevantes que fossem para mim, eram minhas, o mesmo servia para ela, deveriam ser irrelevantes. O e-mail foi à velocidade da luz, o vi cruzar a grande água, como diria I-Ching, correr pelos fios e blim, direto na caixa postal. Demorou a responder mais pela quantidade de exumações que fez e linhas dedicadas a elas que por algum desprezo. Quando já andava em pijamas. Blim. Abri. Os pobres estavam todos desenterrados. Perdidos. Pensei em convidá-los para um baile. Mas estava frio. Assim que, me pus sob as cobertas. Eles continuavam ali, girei para o lado que não costumo dormir, já sabia que teria que voltar à posição de origem... Não houve outra senão resmungar entre dentes: Esta Noite vou dormir com meus fantasmas.


Cristofobia


Antes de mais nada, sou muito favorável a causa LBTG. Gosto de pensar livremente e me expressar da mesma forma, e tentar ir alem da aparência, que é o dogma deste meio, (FB), pode me chamar pseudo semiótico, e assim ( semiótica mente) pensando a cruz é o logotipo da igreja católico romana e seus dissidentes, que entre outras, queimou muita gente, porque tiravam do centro das questões humanas Deus, colocando o homem, botavam a terra para girar ao redor do sol, e este do centro do universo. Dito isto, digo que a cruz é o logotipo de uma empresa que pratica o contrário do que promete. Com seu calendário em looping, a Igreja faz nascer e crucificar seu messias, enquanto seus membros fazem i que não vem ao caso, mas que em suma, nada tem a ver com a mensagem principal do senhor Crucificado. Entre outras a cruz não vai deixar de ser uma melancia no pescoço enquanto alegoria publicitária, a mesma que usa o boticário und konsorten, os beijos de novela, um Maomé dando o rabo, uma modelo feminino insinuante ao lado de um carro a venda, uma hipérbole linguística, ou ainda o famoso "mais maior", ou no teatro( blackface) o ator branco pintado de preto. Todos os sintagmas citados acima têm por objetivo chamar a atenção, e todos não suportam um olhar mais de perto, seja o machismo das propagandas de veículos, o racismo do blackface, a questão errática gramatical, etc. Todos são enunciados que encontram enunciatários, estes com suas bagagens culturais e vida, o enunciado sempre será um conjunto de vozes ( quando dizemos: Jóia, entre outras pode se entender, legal, bacana) que falam pelo enunciador que antes de mais nada não é solitário criador do enunciado, s cruz tem história de 2000 anos, depois existem os ruídos físicos, sociais (culturais) e psicológicos, como já disse acima, de quem recebe a mensagem ( enunciatário), não creio que seja assim tão fácil atacar ou enobrecer quem se indigna ou louva a mensagem! A não ser por dois fundamentalismos, o dos que pregam uma verdade e o que despregam estas verdades

8 de jun. de 2016

Prefiro o Bosque Municipal no lugar dos vereadores.

Alguém consegue imaginar um debate na câmara municipal de sua cidade para pensar
Novos modelos comerciais?
Novas tecnologias e tudo que isso implica, educação, logísticas, materiais, tributos...???
Mobilidade Urbana além de licitações descaradamente de cartas marcadas?
Gestão da água, além da simples privatização, aonde se ganha propina?
Gestão de energia?
Gestão de esgotos?
Gestão de lixos sólidos, hospitalares?
Gestão de Parques e Jardins?
Pois eu não, a câmara de Ribeirão Preto estaria mais bem servida se fosse composta pelos animais que temos presos no Bosque Municipal.

6 de jun. de 2016

dedo de Galileu.

O dedo de Galileu.


Dos vinte, Anton Francesco escolheu o dedo pai-de-todos – dedo médio - da mão direita para expor como relíquia profana; relíquia orgulhosamente profana e provocativa e irônica. E não se pode ponderar a coisa, dizendo que Anton não conhecia o significado do gesto que estava imortalizando, porque é um gesto herdado dos romanos. E ai está.aqui está.  O pai-de-todos da mão direita de Galileu, a se rir do mundo, no Instituto e Museo di Stória della Scienza de Firenze. Ele, que cria que deus havia criado o mundo com a linguagem das matemáticas, que seria o autêntico verbo-divino, nos deixou esse impertinente legado. Depois de tanto botar em questão o geocentrismo, para acabar no gesto antropocêntrico e falocrata que se pode imaginar.  

Abû Bakr Muhammmad inb Zakarya Al-Râzî.

O persa Abû Bakr Muhammmad inb Zakarya Al-Râzî, pode dizer Zacarias, ou Rasis,  (morto em 930, se bem que na wiki ele morreu em 925, ), que não era exatamente amado pelo Islã, começa assim seu Medicina espiritual: “ Deus, louvado seja o seu nome, nos deu a razão para obter com ela, tanto do presente como do futuro, os melhores benefícios que possamos conseguir; é o melhor dom que Deus nos deu (...) Devemos aos apoiar nela para tudo e julgar com ela todas as coisas. Devemos atuar segundo o que ela nos manda fazer” . Mais tarde ele sustenta: “às vezes é preciso beber algo para dissipar as penas”.
Ergo minha taça num brinde a Zacarias.  

4 de jun. de 2016

Não faço liquidação dos meus sonhos.

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Há duas tragédias na vida. Um é a não realização de um sonho, um desejo. A outra é a realização.
Isso contradiz nosso velho ditado, “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”. Que em resumo diz que mais vale ter que desejar. Ainda que essa contradição seja mais aparente que no contexto que a senti mais vezes, isto é, quando falamos de quilos a mais que se acumula  na barriga e na bunda. Quem procura consolo dos excessos que pratica diz que vale mais ser gordo que desejar ser magrela.
Em qualquer caso o que vale mais ter ou desejar? Na literatura há muita narrativa, e muita tragédia, sobre o tema. Em muitas se faz evidente que o desejado é mais prazeroso que o possuído.(Primo Basílio te recorda algo?). A pessoa amada, botemos o dedo nessa ferida, é sempre melhor antes do casamento, sobretudo antes da convivência, antes de decidir quem descerá o lixo, quem troca a fralda, quem limpa o banheiro, quem estende a roupa da máquina… Se poderia dizer , de alguma maneira, a realidade destrói o sonho.
Pra acabar com o pequi, digo que todos os noivados, namoros que acabam num altar de uma igreja, num cartório ou numa juntada de trapos, acabam bem. A reviravolta começa na Lua de mel, o primeiro a acabar, o Mel. 

3 de jun. de 2016

Me cai como uma luva. Nora, Joyce, Lacan, Kant, Eu, Matilde, Neruda, a Ex e Heineken em vez de Heidegger.

Me cai como uma luva. Nora, Joyce, Lacan, Kant, Eu e Heineken em vez de Heidegger.


Certa vez, minha mulher, digo ex, me flagrou olhando para uma moça que tirava cravos de seu namorado. Eu estava enfiado naquilo, perdido mesmo. Aquilo me fazia lembrar o poema de Neruda, aonde ele que tantas, no poema, mulheres tivera, não pode carregar nos braços, Matilde, quando ela desfalecia. Pois nunca ninguém me espremera cravos. Foi ai que ela me disse algo. Dei de ombros. Ela teve sorte, e eu tinha sorte, pois naquele momento ela ainda espremia meu berne peludo. Ela me caia como uma luva do avesso.
Tem uma coisa essa história das luvas do avesso. Você vira ela do avesso e a veste na mão trocada. Isso tá em Kant, mas quem lê Kant? Afinal para que serve essa história da luva? Bem, pode ser que alguém virado do avesso me caia como uma luva. Não inventei nada disso, estava lendo Lacan quando essa história da luva apareceu. Ele, Lacan, está interessado em saber se James Joyce é louco. Ou até que ponto ele não é louco. Lacan desconfia que Joyce pensa que é Cristo, o Redentor. Não é por nada, posto que um de suas personagens mais conhecida, Stephen Heroe, Dedalus é o próprio Deus. E se confundem com Joyce. Mas Lacan tem suas dúvidas. Numa confusão dos diabos ele tenta me explicar o real e o verdadeiro. Para mim, num determinado momento, me parecia que o real fossa a linha e o verdadeiro o novelo, mas logo passou a ser justo o contrário. Como prosseguir? Não sei. Digo que fiquei abestalhado. Li dois parágrafos mais, e foi como se estivesse lendo Hegel em alemão, língua que não domino. Foi daí que tirei que deveria lutar com o que tinha de conhecimento, seja, a ignorância. Então viajei na maionese. Depois voltei. E ele, Lacan, vasculhava as cartas amorosas que Joyce escreveu para Nora, sua mulher. Eu já li algumas dessas cartas. A maioria é pornográfica. Algumas são eróticas. Ele ficava puto da vida cada vez que Nora engravidava. Porque não dava para fornicar. Nora é quem é, a luva virada do avesso, do direito ela não tinha nada a ver com Joyce.

Ontem, por ocasião de um café na Única.


Ontem à tarde Cidão e eu fizemos uma boa caminhada por Ribeirão, que acabou na Única, uma velha casa de café de coador, o mais antigo da cidade, mas que nem na velhice aprendeu de fato a fazer um bom café. Falávamos, mais ele que eu, sobre os bares que ele gosta, quando entraram dois jovens advogados, soube depois, antes me pareciam corretores de habeas corpus. Se acotovelaram ao nosso lado e começaram a discutir sobre Olavo de Carvalho sem jamais chegarem a um acordo. Para um era um gênio, para outro mero provocador. Para minha surpresa se dirigiram a mim, para que fizesse de juiz. Que Você pensa de Olavo de Carvalho? Depois de identificar quem pensava que Olavo era um mero provocador, lhe perguntei se seu amigo era gente boa. “Uma pessoa magnifica” me respondeu. “A melhor que conheço”, somou com firmeza. Nisso está a chave de tudo. Eu disse. As boas pessoas muito frequentemente são péssimos leitores. E todos saímos a cagar de rir.  

O governo interino Temer, sua máscara mortuária.


O governo interino Temer, sua máscara mortuária.

Não existe esfera na vida brasileira algo que possa ser considerado respeitável, pelo grupo que tomou de assalto o Planalto Central. Sua base, o PMDB, tem como característica, hoje naturalizada em qualquer meio de comunicação e mesmo dentro do judiciário, o fisiologismo. E em todos os rincões da vida nacional. Do mais singelo município à qualquer grande capital, o procedimento é o mesmo. São caciques que recebem heranças políticas, por vezes do próprio familiar, como é o caso de Baleia Rossi, e nesse caso se soma o espolio político de Orestes Quércia, posto que o espólio financeiro os filhos e familiares por ele se engalfinham; uma montanha de dinheiro que faz o Lava-jato ser uma querela de mendigos.
Não têm e nunca tiveram claro qualquer projeto de país, e por conseguinte de governo. Seu último representante republicano se aposentou. Não são nacionalistas. Não são liberais. Não são defensores de nada. Por vezes estão em defesa não da industria nacional, mas do industrial nacional, simbolicamente um pato e Skaf que agradecem a servilidade, e na maioria das vezes, não defendem a economia nacional nem por razões meramente nacionais.
A questão do orçamento deixa claro, que continuaremos servis junto da elite financeira, rentista, já que os cortes são direcionados às áreas sociais, um verdadeiro banquete reformista cujos pratos são: tempo de aposentadoria, corte de direitos trabalhistas, investimentos em moradia, a saúde, na área cultural e na boca do porco a maçã o retrocesso na visão comportamental. Os editoriais agradecem, ainda que os interinos cobrem, desses pratos servidos em bandejas cravadas de pedras preciosas, sua parte de leão.
A esquerda, que restou, está desmobilizada, dividida e desorganizada. Foi desmobilizada ao longo dos governos Lula e Dilma. Com influência direta de Lula. Os sindicatos se acostumaram a ser governo. Cobraram seu quinhão. Tanto cobraram que muitos passaram diretamente para a outra banda, como é notório em Paulinho da Força, mas não é só ele, talvez seja o exemplo mais verde-abacate cintilante numa praia de vermelhos, mas todo sindicalismo se perdeu, nesse labirinto. A elite industrial, euforicamente, ergue a taça em louvor aos sindicatos, e nessa efusão de alegria, gotas de vinho respingam no sempiterno presidente. Deste modo, longe da massa, sem vasos intercomunicantes, posto que os velhos núcleos sumiram por algum portal intergaláctico. A desmontagem desses elos entre o partido e sua base começou há algum tempo, por ocasião de escolhas de candidatos majoritários, e foram tomando ares não democráticos, que levaram ao seu desaparecimento completo. Isso explica a rarefação dos movimentos de apoio à presidenta deposta. Exceção feita ao exercito de Stédile e Boulos. Quem tenta, visando ganhos futuros, animar a massa é Ciro Gomes, um baterista que bate em todos os bumbos e não desafina.
Assim, a massa não sai a rua nem pelo fato de Dilma haver sido deposta por um golpe, com requintes de senhores de escravo, no melhor estilo Leôncio, eternizado por Rubens de Falco, ao mesmo tempo bananeiro, grampos ilegais, denuncias sem prova, penteados de Carmem Miranda, família recatada, e as caras duras e a incontinência de Generais de pijama, juízes deuses que proíbem beijos em praça pública, uma TV à venezuelana que desta se envergonhava, analistas políticos que se vendem pelo próprio emprego e uma camiseta polo com o logo da empresa, dão a tonalidade paçoca da miséria cognitiva do momento em que vivemos.
O Republicanismo cuspido pelo furibundo capataz Gilmar Mendes era só uma bandeira que já não tem mastro, este só serviu para a medrosa classe média nele se amarrar com medo do canto da sereia comunista, e que no lugar de tapar os ouvidos, tapou os olhos e não o viu, mas agora começa a sentir seu cheiro velho de enxofre.




2 de jun. de 2016

nenhum

É certo, que o governo Dilma dizia, de boca própria, tudo que existe deve perecer. Não houve surpresa, só um descuido, de duzentos milhões de pessoas, entregues sem resistência a três sujeitos, Cunha, Temer, Gilmar e a grande Mídia.. E nisso tudo foi de embrulho e de roldão: A Constituição, os partidos de esquerda, os cristãos, os verdes, os heróis de monte Castelo, os políticos de renome, os intelectuais de prestígio, o código civil, o código penal, seus códigos processuais; tudo num exercício de mágicos atabalhoados, que ao esconderem a carta na cartola deixam escapar a lebre. E assim nos encontramos, nenhum setor porca e parcamente progressista, tem representação nessa interinidade. Nenhum.     

Voltamos para antes do ponto de partida.

Temer não supera Castelo Branco, e já vejo este espectro caminhar entre nós. E nós teremos que trabalhar para pagar as dívidas da família Marinho e Civita e Frias e Saads.... Definitivamente não sabemos viver em democracia, nossa classe dominante tem medo a qualquer baile com som mais alto, logo vê nisso uma bagunça. Só conseguem dormir tranquilos enquanto a massa dorme faminta, sofrida e auto inculpada.
A caricatura do assalto a Canudos sempre vem à tona. Qualquer maltrapilho os mete medo. Assim o MST os faz recordar de Conselheiro.

Não vamos a lugar algum enquanto não nos livrarmos dessa superstição de ilustração. Não somos ilustrados. Somos escravagistas, só sabemos comandar sob chibata. Aqui a liberdade é antidemocrática, e cada negro diplomado é visto como Zumbi possível fundador de novos quilombos., cada mendigo com a boca de fel, como o Velho do Restelo, uma nova Canudos, que portanto, deve ser arrasada. É frequente o uso da frase, ninguém tem memória. Diria que ninguém tem memória letrada, mas todos sabem desde o inconsciente o que é a classe dominante no país. E quem tem memória letrada sabe que o conteúdo desta frase vai alem dela. Senão o que se vê não é a derrubada de uma Presidenta eleita, mas como o trapaceiro derruba as concessões tiradas da classe dominante durante o último século. O estado voltando a uma forma mais antiga, do domínio desavergonhado das forças policiais. Voltamos para antes do ponto de partida.


achtzehnte Brumaire.