4 de abr. de 2016

Nem Cultura ou Agricultura, só Agre-cultura.

Nem Cultura ou Agricultura, só Agre-cultura.

lavrador de café, Portinari.

A maior parte desses termos são usados para insultar: “Você é um caipira”. A frase pode aludir a um indivíduo rústico, que veste mal ajambradamente, simplório, inculto, mal educado ou tudo junto e misturado.
O que muita gente ignora, agora mesmo, é que a palavra cultura originalmente significava exatamente o mesmo que o termo agricultura, que é aquilo que precisamente faz o caipira.
Com efeito, agricultura, que é uma palavra que procede do latim, significa cultivo da terra, e um caipira, lavrador, agricultor é quem cultiva ou lavra a terra, profissão quem entre os antigos romanos gozava de grande prestigio. Eles sabiam que se tratava de um ofício essencial para a sobrevivência da comunidade. Foi Cicero quem primeiro usou o termo cultura de forma autônoma, sem vinculação direta com o trampo no campo.

Assim, falou do
“excolere animum” no sentido literal de cultivar o espirito, de lavrar o espirito com estudos e leituras para que frutificasse, igual o que se faz com a terra, trabalhar. Então, nos encontramos a um aparente paradoxo, que com o termo com o qual originalmente designávamos os lavradores, agora designamos a cultura. Ao mesmo tempo, os ignorantes – aqueles que não cultivaram seu espirito – se permitem menosprezar aqueles que cultivam a terra.

O êxodo rural superlotou as cidades. A grande maioria dos caipiras não eram donos de suas terras. Um problema que me dá ojeriza só em pensá-lo. Tanta terra e ao longo do tempo, preferimos criar favelas. Amontoar ignorantes rústicos, que com o tempo, só pioraram, sem nenhuma identidade. Sem poder ser agricultores, lavrar a terra encostados com os que não cultivam o espirito. Qualquer cultura, seja da terra ou do espirito, sem nenhum labor, vai se tornando agre-cultura. Não é possível qualquer entendimento.   

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