29 de jan. de 2015

Doravante Vou Usar Máscara.



Lia a legenda de uma fotografia: Quando Papua Nova Guiné se tornou independente, 1964, a tribo Lavongai foi informada que nas primeiras eleições democráticas, tinham a liberdade de votar em quem quisessem. Deram os seus votos a Lyndon Johnson, então presidente dos EUA.

Me parece fantástica a possibilidade da ausência de fronteiras. Uia! Pena que não sei o peso dos votos dos Lavongais naquela eleição, penso um pouco e sou incapaz de tornar concreto o meu voto universal, penso mais um pouco e descubro, que os Lavongais usam máscaras, e conseguem decifrar melhor os nossos políticos mascarados!  

28 de jan. de 2015

Crise Hídrica, Um Banho de Novos Conhecimentos.

obra planejada e executada pelo governo do PSDB, a tecnologia embarcada chega a assustar, fazendo gemer Ramsés II ou III quem sabe.

Começa assim, porque despretensiosa, negada desde quando era curável, mas todos sabemos que desde os gregos a palavra “Krisis” está ligada a oportunidades, mudanças, como um ritual de passagem. Há uns anos, por fatores alheios ao meu controle, acabei por ler Peter Drucker, um guru do mundo corporativo das últimas décadas do séc XX. Lá o fundamental é o Planejamento, Não é difícil, no todo, mas em alguns aspectos, me encruava, e ali estavam conceitos de gestão por objetivos, avaliação, descentralização, “cantados” por Marx “avant la corporation”. A Crise sempre presente no mobile do guru. Conceitos de Missão e Visão na gestão brasileira se transformaram em meros slogans, mesmo nas grandes “corporations”, imagine se um partido politico a abraçasse, pois foi o que os intelectuais do PSDB fizeram. E de lá para cá é gestão daqui, gestão dali, terceirização disso e daquilo, benchmark ou dantosu o melhor do melhor, o Six Sigmas, e lá vai Peter Drucker “O tomador de decisão eficaz compara o esforço e o risco de ação com o risco de inação”, vejo espelhado no espelho d'água do Cantareira esse filme passar. Eficácia, eficiência, gerenciamento, tempo... Ah! A propósito: “Eficácia significa fazer as coisas certas acontecerem.” Não posso reclamar, por este “do the right thing” tucano, pois me ensinou muito. A começar pelas palavras, um enriquecimento prazeroso, afinal, desde criança ouvindo falar em seca, seca do nordeste, uma década de seca... e tudo não passava de crise hídrica. E, por falar em nordeste, me recordo do professor de História a falar que a culpa da seca era quase toda do coronelismo, das grandes fortunas que iam para o Nordeste para sanear a crise Hídrica e eles – os coronéis – a fazer cisternas em terras próprias, ainda se fossem aeroportos, vá lá! Tudo é impactante, grande palavra, impactante, virou um meme nesta gestão por objetivos, planejamento e avaliação, como se fosse um : é nóis!
Creio que muito ainda nos ensinará esta κρίση του νερού, ou όσιμου ύδατος, crise hídrica, então guardei para o fim o ensinamento mais importante.
Tenho, quer dizer, tinha grande dificuldade para entender na prática o significado de Estratégia e Tática, sempre as confundia, quando pensava estrategicamente na verdade traçava táticas, e creio que no mundo do futebol a coisa ainda mais se embaralha, no entanto, a Krisis Hídrica clareou meu horizonte. Agora ficou tudo muito simples: Com a crise a Estratégia é chover, e a Tática é rezar.

E por falar em rezar, meu deus,  quanta injustiça cometo, esquecia-me do "Volume Morto"..

A Minha Sanha é Política. Ou, Vê se Me Entende. Ou, Marat L'Ami du Peuple.



O tempo da Utopia, para mim, já passou. As únicas revoluções com que estou preocupado são as do motor da minha Virago. Vivo da Realidade, seja Real ou Virtual, e são realidades. Para mim o processo para mudar uma Realidade é feito de rodas dentadas de Realidades, o Real alterando o Real. A política é o Real, qualquer que seja, feita por partidos (todos) reais organizados por pessoas (todas) reais. Somo a isso que o Brasil para mim é tudo que não é o resto do mundo. Cada país tem a sua história. A história é o rio que lima as arestas das pedras e as faz seixos. Nossa história ainda não conseguiu gastar muitas das angulosidades desta pátria, mas ainda é cedo amor, a história não para, segue sempre em frente, se repetindo, se falsificando, se tornando pornográfica por vezes, mas segue.
Tenho defendido as ações do PT, não porque creia que o PT seja a melhor coisa do mundo, nem eu sou, nem quero ser, porque deve ser difícil ser a melhor coisa do mundo, além de que, nem deixaria tempo para ler o Facebook no banheiro. Depois duvido das melhores coisas do mundo, incluso pessoas, principalmente pessoas. Se a melhor pessoa do mundo já é um problema, imagino um partido com as melhores pessoas do mundo, pois sozinha é um psicopata, em grupo...
Já declarei outras vezes que o centro, o âmago dos problemas brasileiros não é a corrupção, ainda que dela saiba e que não a defenda, e peça punição sempre aos corruptos e corruptores.
Outra que já declarei é que a verdade que tanto se busca, é o centro nevrálgico do poder. Há muito tempo a verdade era: O Rei tem Poder Absoluto, que o é outorgado pelo próprio Deus! Por longo tempo travou-se uma batalha por essa ‘verdade’. Esta batalha nada mais era, que a batalha pelo Poder e não pela verdade, ainda que hoje saibamos que o Rei era tão fajuto quanto o Deus que lhe imprimia consignas de Absolutismos. Eram de alguma forma tempos mais épicos; Napoleões, Guilhotinas, Maria Antonieta, Brioches, Marat, Robespierre, Danton... Uns cortavam as cabeças dos outros pelo poder, seja em nome de Deus ou Povo, este com sua dose demiúrgica, afinal a voz do povo é...
Este nosso momento político – diz-se isso como se todos os momentos não fossem políticos – está até o pescoço enterrado na batalha pelo poder. Se há batalha, há de haver ao menos dois bandos, e os há, grosso modo se reduzem ao Governo e a Oposição. Querendo ou não, inocentemente ou não, de má-fé ou não, escrupulosamente ou não, quem defende o Governo ataca a Oposição e a possibilidade do 'detrás para frente' também está contemplada.
Não ajo politicamente de modo a favorecer o meu adversário. Na vida real, o meu adversário quer um quinhão dos meus pertences, e de novo vale o inverso. Ah! Mas você faz peripécias para que todos pareçam iguais na desgraça. Não! A política basicamente é mediadora da disputa pessoal, feita de modo a atender a todos os indivíduos singulares, o que não é possível, e nos dividimos em bandos, em tribos, guetos, ruas, vielas, tatuados e não... Como disse, a corrupção não está no centro das minhas atenções – sem deixar de enxergá-la por toda parte, mesmo em mim – quem prefere a discussão moral é o outro, porque ele tem o aparelho de medir mentiras, e fazer verdades, que é a Mídia. O PT só está ainda no Poder, pela explosão Comunicacional causada pelas redes sociais, que amplificaram a voz de muita gente, anteriormente, lembremos Collor, não havia refutação alguma das teses mediáticas.
Há muito que se diz da necessidade de uma Nova Política, uma recauchutagem na nossa Democracia, não sou contra, sou favorável, mas isso se faz com o carro em movimento, com os vetores de poder agindo no Parlamento, no Congresso Nacional, nos Jornais, nos Blogs, nas Redes Sociais. O importante, para mim, é saber que a condução destas reformas também estão em zona conflituosa, porque basicamente retirará parcelas de poder de uns e os dará a outros. Porque no centro de tudo está o Poder.

Por isso é difícil discutir com quem pensa que é um ser humano perfeito. Para mim é mais fácil – mesmo partindo de sérias divergências – discutir com quem é podre, se sabe podre, porque nisso haverá sempre a possibilidade de cedência, porque ao contrário do justo, onde tudo implica em que deixe de ser “tão justo”, para o podre o processo é o de deixar de ser “tão podre”.

27 de jan. de 2015

Antônimos. Os Criminosos Sempre Voltam ao Local do Crime.




Há palavras que conduzem diretamente ao seu referente, apesar de poder causar complicações posteriores, Aspirina, ligeira dor de cabeça, por exemplo, é palavra monossêmica (tem único sentido, significado), seja comprimido ou efervescente sabor laranja.
No entanto, há palavras aparentemente simples que apresentam variações segundo as experiências de cada um, conversava sobre isso com o Hélio ainda hoje, o propósito era outro, o desentendimento por ignorar-se o significado de determinadas palavras, de todos modos uma coisa leva a outra; por exemplo rocha, se escrita Rocha pode parecer nome de escritório de advocacia de outro modo, e apesar de dura, é um ser que está numa transição, que nunca acaba, do pó ao ser...
Provavelmente uma das palavras mais utilizadas na poesia e que mais sentidos carrega é a palavra morte, e isso que sua definição no Priberam é taxativa : Cessação da vida animal ou vegetal. Parece que não há nada a dizer, nenhuma possibilidade de somar nada, mas as palavras, que como a morte, se definem a partir de uma antonímia (morte|vida) carregam perigo: é preciso ter bem claro o significado de sua contrária. Que é a vida?
Neste caso as acepções dos dicionários são aproximações imperfeitas que a cada dia, cada instante, se faz, se refaz, desfaz e se contradizem e têm em cada um de nós ao longo da nossa história uma tendência infinita a reproduzir-se e transformar-se. Seja, a morte, como quer o dicionário, a cessação da vida, mas que Vida ? Que Morte?


depois de perder a memória
o assassino volta ao local do crime
na lida encontra quem pensava morta
escravizado, vira um cão de guarda
vigia o casal contra o bandido ausente
que pode roubar-lhe,
o preço do seu resgate

assim retornava, eu, ao local do amor...

O Monstro Comunicacional.




Não vai longe no tempo, que aquilo que saia nos meios de comunicação tinha presunção de verdadeiro, veracidade. Ninguém os ousava botar em dúvida. “Tá no jornal”, “saiu na TV”, “ouvi no rádio”, diziam os repetidores da notícia, e todo mundo, com babas escorrendo, diziam amém. Os meios de comunicação tinham prestígio entre a população sedenta de notícias, conhecimentos e informações. Falo de modo genérico, mas podia nomeá-los um a um, cabiam nos dedos de uma mão. Entretanto desde que a revolução chegou às tecnologias da comunicação, qualquer pessoa pode ser um jornalista em potencial e qualquer grupinho de malcriados se crê com autoridade suficiente para gerar a sua própria realidade, e fazê-la correr pela rede sem parada e nem freio. As instituições sempre viveram de um 'tanto' de protocolo, e de algum modo, me parece, que sem a banalização e proliferação descontrolada dos meios, não é possível entender a descrença e o desprestigio na política em geral. Claro que a política, ela sozinha, tem feito o bastante e com sobras para a sua ruína, e falta de prestígio, mas ninguém se oporá se digo que houve uma explosão comunicacional, que o Grande Império é comunicacional, e os ventos da explosão comunicacional têm contribuído para pôr a deriva este navio fantasma que ainda faz política.
Agora, veja bem, qualquer bobagem hoje produzida pode se transformar num trending topic e em poucas horas atravessar o mundo, sem que ninguém se importe se o que difunde é falso ou verdadeiro, muito poucos perdem tempo para contrastá-lo.
Ao mesmo tempo, que não se pode fazer nada, é o signo dos tempos que vivemos. Assim, chegamos ao ponto em que todas as instituições democráticas são postas em dúvida e chamadas a se reinventarem, me parece razoável, neste momento, se colocar sobre a mesa esse debate: a função social dos meios e como a cumprem.

Há tempos, a comunicação social, era chamada de quarto poder, era legítimo. Neste momento, entretanto, é um poder que ultrapassa os demais e os domina, e pela sua universalidade e onipresença, os sequestram. Me parece claro que no país, o executivo, legislativo e judiciário estão sequestrados pelo império comunicacional, do qual tomamos parte. Hoje, a comunicação social, esse monstro inominado, como já disse, mas não é demais repetir: do qual todos fazemos parte, que tudo transformou em espetáculo e nos faz andar de quatro e nos faz sonhar vanidades, deve com urgência ser levado a debate, o debate da sua refundação, tão urgente como a regeneração democrática, com reformas políticas fundamentais.     

26 de jan. de 2015

Wealth: Having It All and Wanting More. Davos.

Wealth: Having It All and Wanting More

Ter tudo e um pouco mais, ou querer mais, ou esperando por mais. É o título do informe que a diretora da Oxfam, Winnie Byanyina, apresentou ao Fórum Internacional de Davos: o documento apresenta cifras de escândalo. Diz que a desigualdade mundial é insultante e apresenta números. O que se pode intuir é que a crise mundial diminuiu o bolo mas não para todos. Nada novo. O primeiro a ser lesado é o ‘leso pobre, que ficará mais pobre, ademais Mateus bíblico já nos animava.
A austeridade significa isso: a pressão do capital é tamanha e a sua fome tanta, que abocanhará mais dos pedaços mais miúdos, ou mesmo das migalhas do bolo. Nem é preciso, e preciso, falar da cereja e no chantili.
Há uma dinâmica insuspeita nas crises, aonde o interesse público e os processos democráticos são sequestrados pelos interesses da minoria poderosa. Isso serve, para quem alcançar, para entender a corrupção.
A Oxfam recomenda no dito Fórum que não se troque dinheiro ( os poderosos) por favores políticos, ao mesmo tempo devem exigir, saúde, educação e proteção social dos cidadãos, com uma ‘arrecadação’ justa e o fim dos “paraísos fiscais”. Descobriu o ovo frito com gema mole. Nada contra a Oxfam, muito pelo contrário, mas pedir à raposa que leve só os ovos que necessite e preserve as poedeiras, e de rachar o bico de rir até o cu cair da bunda.
A assimetria por fim é tanta, que é isso: não só econômica, o é econômica porque poder, e é poder porque política. Pra rua cambada!


25 de jan. de 2015

Um Poema Impossível.


Não vou me esconder de ti
Vem barulhenta e ruidosa
toda paixão, uma terrina de saliva
Solta sua voz rouca de baixo
Seus olhos riscam o céu escuro
Cubro a cabeça
com o travesseiro
Cerro a luz para esse delito
de língua com cinzas
Bem-vinda gotas
em meio a chuva.

Como um Urubu.



Como um Urubu.
Estamos autorizados a falar em nome de árvores frondosas?É capaz de explicar que intenções tem o vento com esse balaio de roupas estendidas?
Que sabe das nuvens escuras?
E da represa cheia de barro rachado?
E dos carros encostados à sarjeta?
Quem te deu permissão para olhar a lata de cerveja com uma lupa?
E a cruz branca na beira da Anhanguera?
- Na subida de imponente Jequitibá! -
E de quem balança no balanço de pneu?
Pense se com palavras já tem o bastante
ou
mais valeria
bater asas de galho em galho como um urubu.

Nem Felicidade politica, ou Política felicidade: Felicidade e Política.

We the People of the United States, in Order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domestic Tranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessings of Liberty to ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America.



O direito a felicidade é difícil de configurar no âmbito da  politica. Pela primeira vez na história (1776) a Felicidade foi incorporada a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, em realidade, era e é um imperativo de construir um governo que garantisse aos cidadães as maiores possibilidades de conseguir sua Tranquilidade e Felicidade, sempre em maiúsculas no texto original.
Se relacionou a Felicidade (Welfare) com a renda, a saúde e a esperança de vida, com a integração social e laboral, com o modo de gestionar o tempo... e desde os anos 70 vem se acumulando estudos que relacionam a maneira de governar um país com a Felicidade de seus cidadãos.
Tudo começou com o FIB, Felicidade Interna Bruta do Butão, uma monarquia parlamentarista budista situada entre o Tibet e a Índia. Trata-se da medida de nove parâmetros onde somente um é econômico.
Fazer as pessoas felizes deveria ser a finalidade da política, segundo Aristóteles, quando se persegue o bem supremo. Desgraçadamente andamos decepcionados com a politica, com as instituições e com os partidos, e não é modo de dizer que a política não nos faz felizes, na verdade ela nos entristece ainda mais. Paradoxalmente, o fato de como a política é feita nos decepcionar e nos indignar nos convence ainda mais, a Felicidade tem uma dimensão politica e não é exclusivamente individual.
Isso significa reconhecer que a politica tem um enorme poder sobre as nossas vidas e sobre o nosso grau de Felicidade, e aceitar que constitua, simultaneamente, um risco para o nosso bem-estar; mas também uma das forças mais poderosas, na hora de proporcionar oportunidades de autorrealização e de crescimento para cada indivíduo e para o conjunto das sociedades e da Humanidade.   

23 de jan. de 2015

O Grande Assado: Poder ao Forno com Trufas e Couve de Bruxelas ao Mel: A Tolerância.




Adicionar legenda


Em meio a grande mesa, pousado em grande e preciosa baixela, o assado gourmetizado preferido do ser humano: O Poder. Nos seus devidos lugares: os comensais, uns sentados, uns nas cabeceiras, outros na segunda linha e outros se distanciando dele, mas guardando uma visão parcial ou do todo suculento. Houve um tempo em que o mais forte o puxava para si, sem delongas. Outro em que o Absoluto dele se nutria e deitava migalhas. Por votação... mérito, sorte ou azar, mas sempre resta sobre a legitimidade de quem o esquarteja um zum-zum zum, um mi-mi-mi, um blá blá blá que num crescendo, vez sim outra também, termina em tremendo bafafá, e nesse momento não há como mitigar; se atiram sobre as partes desejadas, mesmo quando caídas ao chão, e uns aos outros e às migalhas se as disputam com os cães no auge da mendicância.
Simplesmente, não há acordo possível. Nem o budismo, o cristianismo, o protestantismo, o islamismo e todos os ismos ligados à religião, à filosofia ou a ética, por muito que se tenha ou tivessem fé, ou se esteja ou estivessem comprometidos, agora ou antes, fizeram água na Idade Média ou em plena Revolução Francesa, não funcionam e não funcionaram como elemento de coesão bastante e suficiente entre os povos. De fato, desde nossos círculos de convivência e das pessoas que podemos chegar a compreender, nem se amam as nações, nem as pessoas, nem as empresas, nem as torcidas de futebol...
Não é agradável reconhecer essas nossas limitações na convivência entre os povos, culturas e pessoas. Mas boto minha roupa bem vincada de realista, sem me deixar cair no cinismo, ou na desesperança, para especular sobre as possibilidades. Penso na tolerância. A tolerância. Bendizemos a tolerância. Mas será a única virtude cívica que nos resta? A única maneira prática de aceitar o outro e de o suportar até o que nos desagrada neles? Será a tolerância a coluna vertebral da convivência pacífica? Tenho minhas dúvidas! A tolerância para mim é um tédio. A tolerância é para aquilo que não sinto nem amor, amizade ou simpatia. Apesar disso, parece eficaz, sem milagres. Num mundo aonde a Moral, o Amor, a Razão todos, fracassaram, inclua-se neles todos seus discursos.



Em tempo: Couve de Bruxelas talvez seja a ignomínia do mundo vegetal!

22 de jan. de 2015

Nevoeiro.


Dizer jamais é sempre um exagero, pode ser que um nevoeiro cinzento me envolva numa trama, que farei chegar até você. Você o reconhecerá, ou alguém que te conhece, ou tenha vivido perto de você, ou esteve com você na mesma sala de cinema, sim, é um suspense, quando não uma baba viscosa suspendida, que não sabe saltar no desconhecido, e fica ali esticando e encolhendo. Então abre a boca como um peixe fora da água, confiando que avessa à baba soltará palavras, mas é como se abrisse a torneira no mesmo filme, e não sai nada, monossílabo átono que seja, de verdade só a baba viscosa, que nojo... já faz tempo que jaz dormida da mordida vis-à-vis nojenta.     

21 de jan. de 2015

O Equilíbrio. Mauri Lima.


MauriLima. Artista Plástico. obra em
 Ferro Fundido


Buscar o equilíbrio das pedras requer silêncio. Até que as pedras falem. Ou até que não se possa falar. Ou ainda que se canse do silêncio. Ou até que se descubra que o equilíbrio não se pode desenhar com outra coisa senão silêncio. Ou até que queira, necessite, quebrar o silêncio, o equilíbrio, mas não as pedras. 

Pequena homenagem a Mauri Lima. 

19 de jan. de 2015

Encher Linguiça.




A tudo dizem, cultura. E já se esquece o que realmente é, e já ninguém fala, ainda que todos nela se socorram para tudo. Tudo é cultura, alimentação, saúde, esporte, TV e pobre de quem rumine fora do cocho, porque as bocas se encheram até cuspirem espuma com expressões que comecem com cultura de... e que não queira saber como acabam, porque a variedade é ilimitada como a diversidade de gostos que são obrigadas a ter as linguiças, que as fazem com rúcula, provolone, muçarela, tomate seco, tanta variedade que me obrigam a pedir linguiça de linguiça. Com a cultura se dá o mesmo, e ao final nomearemos cultura cultura. Porque não quero conselhos para correr melhor, receitas de linhaça, nem análise profunda do último BBB, nem a lista dos bares da cidade com as melhores comidas de boteco.
A cultura fazia perguntas, fazia pensar, a praga hermenêutica não havia tomado conta de tudo, agora parece que querem nos dissuadir, os degustadores culturais, que enquanto como batata frita com creme de alhos, ele mastiga para mim a última novidade editorial, que leu em duas noites ou uma e enche uma long neck de adjetivos, para que eu possa falar algo, quando me perguntarem, você já leu? Sempre chegarei tarde, eles vão às pré-estreias, eu corro e como linhaça, saio com sacolas do Shopping, bebo cervejas artesanais, sempre tarde, porque a cultura se consome de pressa ou já vencida.
Temos que viver de alguma coisa e que se o ranking dos melhores coloridos ovos cozidos da capital... então percorremos a cidade apressados a ingerir ovos. Afinal devo estar em dia com o que interessa a todos e interessa a todos o que se faz agora não o que foi feito a dez anos, cem anos... e estão ai as listas de locais e as coleções de os dez melhores disso e daquilo, de conselhos dietéticos e estéticos, e polifacéticos, que fazem em conjunto uma bufa tribal.
A cultura pode ser estática, lenta, e atemporal, ou ainda, devia ser, não sei bem, mas aposto por isso. Assim pode-se ver um filme dos anos 80, ler um livro escrito em 1909,de um século, e não é um exagero meu, estou sendo muito preciso com o tempo, claro, se foram feitos com algo mais que a pressa, ou com o afã de estar no decálogo do momento. No entanto, nos confundimos, e tudo confusamente é cultura e é essencialmente consumo e preferentemente imediato.
Pode parecer que exagero, ou que estas linhas são brotos de sofisticação, mas não, é só abrir a TV, o jornal, os olhos e ver a encheção de linguiça.
O que quero dizer, e ainda que não pareça, que falamos de TV, de correr, andar de bici, ou de dietas milagrosas em meio a críticas de livros que não lemos, e ao lado da entrevista do escritor a lista dos melhores quitutes de boteco, afinal não sou obrigado a ler nada. Quero dizer que cada vez custa mais encontrar coisas legíveis, e as cervejas de mil gostos farão com que um dia esqueçamos que a base de uma boa cerveja é cevada e lúpulo, e que uma boa linguiça se faz com carne de porco. Se me queixo que os escritos são encheção de linguiça é porque tampouco a linguiça é feita como linguiça, resta saber do que são feitos os porcos.

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17 de jan. de 2015

A Secretária de Segunda Mão.

Aonde vou botar a secretária de segunda mão que comprei para o computador? Aqui? Naquele canto? Gosto dela onde está, de cara para a parede, com o quadro que pensava que me faria entrar para as artes plásticas. Nessas coisas sou prático, não consigo elaborar, boto e vejo e corrijo se for necessário. No meio do caminho? Tem certeza? Há bastante espaço, não há porque tropeçar! É! Então... e pensando bem, muda o ponto de vista, claro, não automaticamente, não é sentar ali e pronto. É sentar um monte de dias enfileirados, olhar tudo desde lá, ler desde lá, responder, escrever, perguntar, propor, mudar o ponto que sempre fixo o olhar, entre a meia parede e o teto, que é lá onde tudo se explica, ou se confunde. É ver tudo desde o meio do escritório. Quem diz escritório, diz mais coisas. Ainda nem sentei naquela cadeira diante da secretária, mas é como se já tivesse sentado, com o novo ponto de vista, com aquele ponto de vista já aderido aos ruminantes, a ponto de desfazer o velho ponto de vista, e olha que isso não é uma publicidade de móveis. Desde o ponto de vista da cadeira da secretária do computador, que posso chamar de ponto de vista da cadeira, vejo tudo o que antes via, mas agora vejo diferente, como se eu não fosse eu, senão um tipo de narrador onisciente, que observa a cena desde fora e a pode descrevê-la como se fosse um manual, não esqueça que quem diz cadeira, escritório diz mais coisas, todas as coisas, e me pergunto, porque comprei uma secretária de segunda mão, para me dar conta que está tudo bem, bastante bem, mas bem do que pensava antes da secretária de segunda mão. Então chega o dia que já tenho o novo ponto de vista, e já o posso usar para tudo, inclusive fora do escritório, na cozinha, na churrasqueira, pelas ruas, e por onde fixo o olhar, vou vendo que não está nada mal, que há muita coisa que se encaixa, que são muitas as coisas que têm o seu lugar próprio, e já faz dias, semanas, meses que poderia dizer que sou feliz, bastante feliz, por não adicionar nem um mas logo depois, é só botar um ponto e seguir. Feliz. E então sento onde me sentava antes, e olho a secretária, e continua não sendo um anúncio de móveis. Falta pouco para recomendar a todos os meus amigos, que agora boto ponto final e um adjetivo, sem mas, e o adjetivo quase foi tarde demais para pronunciá-lo, que comprem uma secretária de segunda mão e a pousem no meio do escritório, quem diz escritório diz mais coisas.

16 de jan. de 2015

A Testemunha.

Clap clap clap. Não espero ninguém! Gostaria... Que não me ouviu? Ninguém. Ouvi, mas eu trago uma mensagem que você não poderá... Não poderei o quê? Não é que não poderá, é que creio que pode te ajudar. E você como sabe que preciso de ajuda? Não, não é isso, isso poderá te interessar. Tá, e como pode você saber o que pode me interessar? Eu suponho, todos precisamos... Ajuda a fazer o quê? Será que já nos conhecemos? Não, não nos conhecemos, mas se deixar que te explique... Como poderei te dizer? Que Jesus é paz e ... Senhor.. Acho que já vou indo! Porra! Como desiste da ovelha assim tão fácil? Quê? Mas se... Com esta atitude não chegará muito longe, moça. Eu só queria... Isso, desculpe-me, é o teu orgulho, né? Me deixa confusa. Já vinhas confusa desde a casa de jeová, Coração! Escute senhor... ! Vamos entre e diga o que tem para me dizer. Não, não preciso entrar não, são dois minutinhos da tua atenção... é minha amiga que foi ao carro... Entre, vá! Que com esta porta aberta me escapa o Xexeu. Quem é Xexeu? O gato Ão. Ahn? Xexeu Ão. Tá certo, entro. Claro, moça, estaremos melhor se sentarmos. Que sentar! Aqui mesmo no alpendre, já me farei entender. Não seja rancorosa, que não se faz nada em cinco minutos. Senta. Nada! Então! Senta, senta e descanse, que vou preparar um café. Já tomei café hoje, não precisa. Claro que precisa, sempre fui um bom anfitrião. Não duvido. Então não falamos mais nisso. Senta e descansa, e tire esses sapatos, por isso botei esse tapete. Eh? Não, não. estou confortável. É teimosa mesmo? Vai que te ajudo. Quê? Tá vendo? Mas.. Senhor!? Não me diga que não está melhor? Vai, enquanto preparo o café, dê uma cochiladinha, que está com cara de cansada! Mas eu venho só para... Claro que sim, que já me explicará, mas agora relaxa, vai! Não quero relaxar! Moça, mas que gênio, hein? Cara, você me tirou os sapatos, você! Pura cortesia. Mal pensada, e tem uma maneira bem estranha de ser cortês, nunca lhe disseram? Não é a primeira mulher que me diz isso, não. Claro, se vai arrancando os sapatos a todas?! Já te entendo, não me tome... Perdoa-me... Vou ver se saiu o café, não te mova. Tenho que fazer outras visitas e minha colega pode estar preocupada. Você espera, um pouco, que o café é para você. Não posso tomar muito café que me altera. Ainda mais? Quê? Fala mais alto que não te escuto. Nada, não dizia nada. Calma que já volto. Sim buana. Te escutei! Que não era surdo? Não tanto como parece! Vamos, o café, que isso já é tarde. Tarde para quê? Para levar sua mensagem enganosa à vizinhança? Olha o respeito! Mitos! Oh o respeito, já disse! Não precisa gritar! Mas se você é surdo? Nem tanto, vamos ao café, já trago, mas não bote os sapatos, é claro que boto... que não disse que o tapete é para isso. Ora, assim me machuca. Não é para tanto, senta e cala. Mas se me marcou o braço. Só te segurei pelo braço. Já tenho o bastante, me vou. Você não vai a lugar algum. Deixe-me passar. Veio me explicar uma coisa que pode me interessar e me ajudar, não? Não, não vai te interessar, deixe-me sair ou gritarei. Já pode gritar o tanto que quiser, durante o dia estou sozinho, a vizinhança toda trabalha fora. Por favor, quero calçar os sapatos... Está fora de questão. Como? Essa é a minha casa, aqui mando eu. E se acabou! Preciso ir embora. Pode ir, mas os sapatos ficam aqui. Você ficou louco? Não me chame de louco. Pegue os sapatos e abra a porta, já! Me chamou de louco, retire o que disse. Pronto retiro. Olho no olho e diga que não retira. Retiro.. não é sincera. Como? Mantenha. Não, não mantenho nada. Vem pra cozinha, senta e espera que sirvo o café. Que não, sou sincera, me equivoquei, você não é louco! Já venho, não te mova. Não me movo. E dá-me a bolsa. Não, por quê? Dá, anda! Opa, é minha, é roubo! Meu celular? Fico com ela. E você não se vai enquanto não me explicar o que veio me explicar! Já basta, fique com os sapatos, o celular, deixe-me ir, acabou a graça. E tem graça que a três por quatro bata na porta para explicar o que não me interessa? Não é a mesma coisa! Claro que é, duas, três vezes na semana e no domingo sempre. É a primeira vez que venho. Então teve sorte, você representa todos os outros. Sorte pra quê? Você pagará por eles todos e você! Que te pagarei...? Sim sim, você e faça-me o favor de calar-se. Não quero. Cale ou... Ou o quê? Não me provoque! Escute, não pode ser, há algum mal-entendido, eu só queria explicar... Vou buscar o café, pobre de você se se mover. Cara, entenda, é o meu primeiro dia, minha amiga mais experiente, voltou ao carro para pegar material. Então, mais razão para te pegar com calma, minha flor, tó, tome o teu café. Não quero. Bebaaa! Que não, que... Bebe sim, sou eu que digo! Que faz, que me queima? Ui! Perdoa! Te manchei! Que merda, minha blusa nova... Tire-a, que boto na máquina de lavar e … Bastaaa! Me vou...! Sem sapatos, sem celular e com uma mancha de café na blusa. Não penso em tirar a blusa. Claro que vai! Que você tá fazendo? Vem! Me larga! Fique quieta! Tá me machucando! Quiete-se ou te quebro! Que não tiro, e acabou! Pronto, vou botar na máquina, e não vai embora, né? Isso já passou das medidas... Não sofra, que a máquina não demora, enquanto isso vamos jogar conversa fora, e se quiser me explicar aquilo tão interessante que disse que tem para me dizer, vamos desembucha. Não tenho nada a te explicar, por favor, me dê a camisa, o celular e os sapatos. Com essa pressa não passará nunca uma boa mensagem, já sabe né? Não seja cínico! Só pretendia ser amável! Quem diria? Controla o teus instintos, moça! Se não, não sairá daqui! Você vê muitas séries, muita televisão! Vou buscar a blusa, veja se fica mais tranquila. Aqui estarei, remédio? Isso me agrada, e ver que ainda não foi embora. E posso? Não faça drama. Que drama? Que você quer me dizer, dispara. Nada, não! Vá, não vai perder esta oportunidade. Nada demais, olha essa mensagem! Sei que não te interessará. Mas leia, nunca se sabe. Uia! Tá vendo? Vejo que você tem muita coisa pra ler nessas estantes. Não, tem muita coisa que não li. Quem lê muito essas coisas de sociologia não acredita em deus, né? Não é bem isso! Como assim? Eu acredito no homem, não é que descreio de deus! E quando está sofrendo? Bom! Penso que o sofrimento faz parte do ser humano, senão não haveria a dor física! Não entendo! A dor nos protege, nos avisa... Mas deus pode te curar... Não diga asneiras... Venha aqui ao meu escritório que vou te mostrar o que me cura. Não não precisa! Não estou pedindo... Já vou... Viu? Olhe as estantes! Só tem álcool e livros! Então, não é preciso mais nada! Não me diga! Vamos pra cozinha, vamos, e me explique como uma moça tão bonita, vai de casa em casa, vendendo deus? Não tem segredo, tenho minha vida profissional, e nas horas vagas cumpro com meus desígnios. Uau! Mas podia ser modelo... Ah vá! Tem os seios preciosos. Escute! Moça, é que os tenho diante de mim em sutiãs. A secadora já deve ter secado a blusa, né? Voltou a ter pressa! É que estou me sentindo incomodada, e você ainda me fala dos meus seios. Pense que sou o seu médico. Mas podia ser meu avô também! Perdeu o medo? A blusa, por favor. Eita impaciência! Putz... a mancha não saiu! Vou botar um produto, tenho que tirar a mancha, afinal fui quem manchou, e é o seu primeiro dia. Não precisa, deixa assim mesmo, dá-me a camisa, por favor, tenho que ir, minha amiga deve estar desesperada... Claro que sim, moça, mas pense que estamos só eu e você... Mas tenho que visitar mais gente, deixar a revista. Pense, se eu me converto... será um grande primeiro dia, afinal... Cara, não... Assim não vai a lugar algum. Escute! É que não posso dizer nada. É que acaba se achando, cheio de confiança. Estou em casa. Eu não. É como se estivesse. Sim? Então devolva os meus pertences... Aonde você pegou essa faca... Não! Toma, seu louco! Toma! Quer mais uma! Toma! Sua filha da puta, não me deixe aqui... Seu bobalhão, também já li sobre a síndrome... Pelo menos ligue pra ambulância.. não direi que foi você... Não dirá mesmo.  

15 de jan. de 2015

Dados.

Dados!


Não se deve esquecer que por trás da violência de signo islâmico, subjaz a longa e histórica luta entre sunitas e xiitas, para conseguir a supremacia religiosa, e portanto o poder político naqueles territórios onde se rende culto ao profeta Maomé, e se puderem estendê-lo a novos domínios, amariam. Por estes dias os estados que disputam esta hegemonia são a Arábia Saudita e o Irã dos aiatolás. Por trás do denominado califado islâmico (sunitas) que controla territórios da Síria e Iraque e recruta mercenários nos bairros de imigrantes muçulmanos das periferias de capitais europeias, se suspeita do suporte de alguns dos emirados do Golfo. Por outro lado é conhecida a proximidade do regime teocrático de Teerã com o Hezbollah no Líbano e com o Hamas em Gaza. Pode-se dizer que Boko Haram, o grupo terrorista que sequestra e mata na Nigéria, tem como objetivo proclamado: impor a Charia ou Sharia, a lei Islâmica, naquele imenso país.   

14 de jan. de 2015

O Abuso.


 Diz o dicionário: 
"1. Mau uso.  2. Uso excessivo. = EXCESSO 3. Desmando, desregramento
4. Agir de forma a servir apenas os próprios interesses,mesmo se 
prejudicando a outrem. dicionário online Priberam"


O abuso tem a ver com os limites.
Sempre ultrapassando os limites que dita uma moral comum. Geralmente para arrebentar com  a bolha de liberdade do outro em benefício da liberdade própria. Uma imposição. Uma vergonha.
O abuso está enraizado nos rincões mais profundos da alma de todos nós. O instinto nos impele, caladamente ou aos gritos, que façamos uso do poder que temos às mãos. Assim podemos ver nas crianças, que descobrem aos poucos meses de nascer, o poder das mãos e dos golpes e dos gritos, uma tendência que jamais a abandonaremos por completo e que a razão somente a mitiga com o passar do tempo. O abuso.

O abuso está em todos e em todos os lugares do mundo, por não faltar ali abusados e abusadores. O abusador explora a desrazão para impor-se. Abusar nos escapa ao juízo e portanto inunda todos os campos do cérebro do que sofre o abuso massivamente e ali demora-se. O abuso é lento para esvair-se e jamais desparece de todo, e ali cava e cava até a morte. O abuso. As suas ações, são tão absurdas, tão injustificadas, e procuram  e encontram com facilidade espantosa argumentos, escusas, para ser, para manifestar-se e perpetuar-se. O encontramos no trabalho. Nas grandes empresas. Nas pequenas. No governo. Na oposição. O abuso. O abuso é parte natural do exercício da responsabilidade, da hierarquia,  onde frequentemente as fronteiras são definidas pelo código de ética de cada um. A ética. A ética, essa massa sem forma que se amolda a cada circunstância, seja por lixo ou crianças. Depois de uma vida recebendo, igualmente se acaba por encontrar um modo de devolver. Por muito que busque, não encontro pior expressão de sujeira e brutalidade na natureza humana que aquele que abusa do fraco. O abuso. 

Liberdade de Non Expressão.


Conhecido principalmente pela sua teoria da sociedade do risco, que considera a atual distribuição dos riscos incapaz de corresponder às diferenças sociais, econômicas e geográficas, próprias da primeira modernidade, e em condições de impor novos perigos disseminados em escala global e de mais difícil controle, o sociólogo alemão Ulrich Beck, disse em algum lugar que se quisessem saber como seria a Europa do futuro, bastaria olhar para o Brasil. Garante que a crise 2007\8 e que dura, botou um peso na balança, desequilibrando o poder no mapa político.
De outra, prospectivamente diz que os novos objetivos – europeus – são conseguir um novo contrato social, de modo a afastar a catástrofe anunciada, e fugir do atual “monstro político” - a Europa alemã – Alemanha, que também caminha para a decadência, pela inviabilidade das suas fronteiras abertas, as suas normas relativas à qualidade dos alimentos e do ambiente, a liberdade de expressão e de imprensa, as suas universidades ligadas em rede e cooperando entre si, a relativa fluidez do mercado de emprego...
Assinaladamente há uma diferença fundamental entre liberdade de expressão e de imprensa. Gerada pela separação entre Sociedade Mediática e Sociedade Civil, esta também enunciadora. Aquela representando interesses próprios, ocasionalmente e aparentemente representando a sociedade civil, mas sempre com interesses próprios. A expressão mais simples da Liberdade de Imprensa é propagandística, se antes ficava claro o que era propaganda e notícia, hoje está claro que tudo é propaganda – há que se dizer, por força de ilusões, que nem tudo é pago em moeda corrente, havendo um intercâmbio “natural” com as várias formas de poder - . Pois é notório, que Sociedade Mediática é sem sombra a dúvidas um conjunto de empresas e corporações cuja mercadoria única é a opinião disfarçada de informação. Longe vai o tempo em que a informação era a mercadoria principal, nos dias que correm as únicas informações ''puras'' – no sentido de isenção de auto interesse – estão no âmbito policial e da fofoca, e fatos corriqueiros do cotidiano mais mundano. Por isso não sabemos a realidade, por exemplo, da questão energética ligada ao petróleo – no âmbito meramente informativo -. Sabemos que a Petrobras perde valor nas bolsas de valores, no entanto esta informação é passada com o vínculo – quase único – da corrupção, e é claro, que não pode ser afastado; no entanto, a crise “energética” é global e o excesso produtivo proposital – crise esta a propósito dos riscos perpetrados pelo próprio sistema, na visão de U. Beck –, sendo que pouco sabemos dos seus reais motivos e propósitos geopolíticos. Por outro lado à Sociedade Civil enunciadora, não legitimada pelos poderes mediáticos “legítimos”, cabe o papel de caçadora de conspirações.


Assim a Liberdade de Imprensa, diria, funda-se na liberdade de não-expressão, negando à sociedade civil as informações reais.

Conto de Carinho

Faz muito tempo, na encruzilhada de um verde vale, ao sopé de uma montanha, havia uma vila feliz. Todas as pessoas eram felizes. As crianças e os jovens nas escolas. Os adultos no trabalho. Os idosos com seus entes queridos. Os animais de estimação eram estimados. Entretanto, não sabiam que eram vigiados, desde o cimo da montanha, por uma megera. Uma bruxa má. Ela descia à vila  disfarçada. Queria saber o porquê de tanta felicidade. Se esgueirava pelos quintais. Ia se perguntando: Por quê? Foi então que viu, todos se faziam carinho. Astuta, percebeu que havia inclusive um modo de fazer carinho. A avó com sua mão quente massageava os ombros de seu neto, percorrendo lentamente de omoplata a omoplata, escorregava um tiquinho abaixo pela coluna, subia até a nuca. Se esgueirava e via no banco da praça as pessoas se acariciando. Ela queria dominar a vila, mas não via possibilidade para suas maldades, porque ali não havia pessoas carentes. Um estranho procurava outro estranho e se acarinhavam. Desabotoavam a camisa, e deixavam os ombros nus. O outro com a mão quente, começava a massagear. Logo um jovem, que passava, oferecia carícias a uma jovem, a mulher dizia ao marido, da sua labuta, e ele dizia da sua labuta e se acariciavam com suas mãos quentes, e assim iam vivendo, felizes.
A bruxa voltou ao topo do monte, e pôs-se a traçar um plano para acabar com aquela felicidade. No outro dia voltou à vila e fez correr a notícia de que as carícias poderiam acabar, se eles continuassem a fazê-la com as mãos. Ela dizia que gastava e com o tempo já não funcionaria. Todos ficaram com medo. Muitos exitavam em acariciar. E começaram a poupar carícias. Guardavam para algum momento especial. Para pessoas especiais. E a vila foi entristecendo. Eles queriam se acariciar uns aos outros, mas tinham medo que acabasse. Houve, no entanto, os que perderam o medo e pouco a pouco voltavam aos carinhos. Quando a bruxa voltou, viu que já não eram tão felizes, mas viu também que a tristeza ainda não era suficiente. Conversou com as pessoas, e ouviu deles que sentiam falta de acariciar. Subiu a montanha ruminando planos. No dia seguinte desceu à vila e foi ao mercado expor a solução para aquele problema, era um carinho de silicone, muito parecido com a palma da mão, e que se as pessoas se acariciassem com aquele carinho de silicone, não haveria problema de o carinho acabar, todos correram as suas casas e voltaram com o dinheiro para comprar o carinho de silicone, e felizes se puseram a acariciar com ele. Logo eles perceberam que o carinho de silicone não funcionava como antes, com o carinho feito com as mãos. Mas não poderiam fazer carinho com as mãos porque acabaria. Sempre atenta, um dia, a bruxa desceu a montanha com uma solução ao carinho de silicone, era o carinho de plástico. Era mais frio que o carinho de silicone, mas era mais liso, dizia ela, escorregava mais, e não precisava lavar tantas vezes, para retirar óleos... todos compraram o carinho de plástico, e cada dia mais se acariciavam, lavavam-no e guardavam sobre alguma estante. Cada dia estavam mais tristes. Então logo aparecia carinhos de plástico de variadas formas e cores. Se animavam bastante e voltavam a comprar carinhos, andavam pelas ruas e exibir seus carinhos de plástico multiformes e multicoloridos. Davam nome aos carinhos e iam se entristecendo. Logo se cansavam das cores e das formas dos carinhos de plástico... atenta desde seu posto elevado da montanha, a bruxa via seu intento funcionando bem, astuta se dava conta da necessidade de inovação do seu produto, misturava suas mandingas, desenhava sobre cinza seus projetos, e com duas palavras mágicas tinha um novo carinho para o mercado, o carinho de inox. Brilhante. Sem um risco miúdo que fosse. Era tanto polido que se podia nele se mirar. O mercado entrou em alvoroço. Nem com todo seu poder de produção dava conta á demanda. Houve quem furtasse o carinho de inox a outro. Os carinhos de plástico e de silicone emporcalhavam as ruas e as praças. Quando todos haviam adquirido o carinho de inox, ela descansou. Todos se olhavam no carinho de inox, se acariciavam, levavam um trapo para poli-lo, e o dependuravam no pescoço. As pequenas indústria da vila, inventavam capinhas para o carinho de inox, polidores. As pessoas seguiam o manual de uso, e cada vez menos, passavam o carinho de inox nos ombros uma das outras, para não gastar, porque custava muito dinheiro ter um carinho de inox. Era frio. Mas quase já não se lembravam da mão acariciadora. E as relações cada vez mais perturbadas. A tristeza logo se instalava. As crianças choravam. Os idosos abandonados. Os namorados ensimesmados. A tristeza, o desamor, o ódio, tomavam conta da vila. A bruxa desde o cimo da montanha, ria em derrisão. No outro dia quando a viram descer a montanha com muitas caixas sobre o ombro, todos a foram esperar no mercado, faziam fila. Muitos reclamavam do carinho de inox. Eu tenho a solução disse ela. E todos aguardavam com ansiedade, ela falou que já não funcionava mais o carinho que passa pelos ombros, agora os apresento um carinho definitivo que todos vão amar... e então diante dos olhos arregalados de toda a gente da vila ela exibiu um prego cintilante, com a ponta mais aguda que uma agulha, e disse espetem nas costas uns dos outros e todos avançaram sobre o novo carinho, o carinho prego.



Não me lembro quem me contou esse conto, nem era assim, era parecido com isso. Foi na época da Filô. Década de 80.

12 de jan. de 2015

Cinismo!



Ontem postei esta  charge ao lado, primeira página do Charlie Hebdo. 


Dizia no cabeçalho, que era “Ótema”. “De banheiro de rodoviária”.




 Foi só o que disse. Alguém tomou o mau gosto - que enunciei - como defesa de Jijadistas. Não era, absolutamente, a minha intenção, minha crítica era tão só estética, se tanto, mais não era, que um sarro aos mortos desenhistas.

Sou definitivamente contra a pena de morte. E o acontecido foi uma execução penal. Cujo crime foi o de fazer críticas a um sistema pela via satírica.











A charge que postei tem sabor a banheiro de rodoviária, ou qualquer banheiro público, onde se escreve, desenha e se deixa o número do telefone dizendo que tem o pinto grande. Entretanto o cinismo e o mau gosto ou não, não está exatamente na charge, o mau gosto e o cinismo estão na vida real, a charge só os condensa.


Se alguém faz mal aos árabes não é o humor, é a realidade. Esta é passível de discussão. Mas demora um ano para se fazer bem feita.

11 de jan. de 2015

Não Existe Álibi.


Não existe amor verdadeiro, religião verdadeira, humano verdadeiro, humor verdadeiro... existe amor, religião e humor real. Tudo obra de humanos reais. Os europeus em geral e os franceses em particular menosprezam o que não é Europa, e no confronto, o que não é o seu país, o seu umbigo. Diferença conosco não europeus? Eles tiveram muito poder, continuam a cagar regras civilizatórias. Nós... já se vê. O comportamento do sátiro reflete esta civilização. Os Jihadistas estão a matar muito dos seus vizinhos, religiosamente. Quem armou essa gente foi o ocidente (civilização); armou para que usassem essas armas entre si, de modo que o ocidente tem culpa do desequilíbrio, escasso, no oriente; seja qual for o mote, petróleo, geopolítica, o escambau. Os árabes migram como muitos povos pelo mundo, como já faz tempo. Uma das maiores cidades portuguesa em número de habitantes, seria Paris, da mesma forma que há mais árabes na França que uruguaios no Uruguai. De tal forma que nem país verdadeiro existe. Existe a França real, com portugueses, árabes, russos e todos são menosprezados, ademais como menosprezam, em Paris, qualquer sujeito francês de outras províncias, e em nenhum outro lugar o provinciano é levado tão em sério, um nada. Se o provinciano francês é assim tratado, imagine os imigrantes. É uma característica francesa, europeia. O problema é que isso não se restringe intramuros, desde sempre querem exportar, de qualquer modo, sua civilização. Nós, sul-americanos não damos muita bola, particularmente os brasileiros que de bom grado, inclusivamente os queremos imitar, noutros tempos inclusive a língua que todos queriam aprender era o francês. Os norte-americanos vão a seu modo, ficaram tão poderosos que se lixam pela Europa (civilização), e fazem o mesmo, ainda que europeus e norte-americanos difiram enormemente entre si. Entretanto, os árabes têm uma história poderosa, a civilização árabe foi muito poderosa, talvez tenham sido o berço da civilização grega. Grandes guerreiros. Grandes matemáticos. Grandes arquitetos. Alhambra em Espanha é uma amostra grandiosa, do que fizeram na península, um dos seus últimos feitos, foi permanecer oito séculos na península ibérica, tanto é o nosso português tem uma infinidade de palavras com origem no árabe, Cervantes do cavaleiro da triste figura, viveu muito tempo entre os árabes. Têm orgulho para ser ferido. Somo que a religião os perverteu.
O mundo nunca viveu em paz. Assim que devemos sempre pensar, que estamos sempre em guerra, grosso modo, de vizinho contra vizinho, assim, a guerra entre países jamais terminou. Os chamados períodos de paz, são exatamente o de preparação para a guerra. Os Estados Unidos da América fazem hoje o que fazia Atenas a Cidade Estado, antes da guerra do Peloponeso, administrar diferenças, criar diferenças, inculcar agressões. As ligas, como a de Delos, são repetidas hoje como Otan, Nafta, Mercosul e por ai vai. Atenas era tão poderosa capitaneando a liga de Delos frente aos Persas, como é o mundo ocidental, capitaneado pelos EUA frente aos árabes herdeiros da Pérsia.

Culpar a religião pelos ataques terroristas é o mesmo que culpar Zeus pela guerra de Troia, afinal foi nas bodas que ele arranjou que Paris levou Helena. 

10 de jan. de 2015

Religiões.



Deus é nada mais nada menos que o reflexo especular dos humanos que nele creem e ou o inventam. Analisando, ainda que superficialmente, é fácil reconhecer as religiões da antiguidade. A um observador rarefeito de preconceitos, é evidente que os antigos, adorando seus deuses, se adoravam a si mesmos. Vejam Zeus, deus dos raios e trovões, luxurioso e vingativo. Afrodite, pra se ter uma ideia é dai que vem afrodisíaco, era a deusa da cópula, se concebia uma ninfômana que se deitava com todos. Ares, deus da guerra, o seu mundo se resumia a guerra e a violência.
Dionísio, sempre dado a carraspana. Desta mínima mostra podemos deduzir, sem dificuldades, que os gregos amavam o sexo, a farra, a cachaçada e adoravam um quebra-quebra. E nisso não eram em nada diferentes de outros povos da antiguidade, nem de nós mesmos, talvez a diferença é que os deuses se manifestavam de modo transparente, nada parecido aos do momento.
Coisa curiosa, isso das religiões, e o que direi vale para todas. Com independência da sua verdade, isso é, da existência ou não de Deus, as religiões têm uma grande utilidade social. Desconheço alguma que não proíba o assassinato, que não proscreva o roubo e não obste a mentira, e que não recomende moderação quanto ao sexo, comer e a avareza. Neste aspecto, a moral das religiões não faz outra coisa senão reforçar, com a força da fé dos crentes, aquilo que os costumes e as leis recomendam, e vetam aquilo que as leis proíbem. Assim mesmo, as religiões, ou se preferir determinadas interpretações históricas, favoreceram ações literalmente contrárias aos seus princípios declarados. Em seu nome proíbem outras maneiras de culto, perseguiram discrepantes, executaram seus críticos e burladores. Simplificando, podia dizer que em nome do amor, da salvação e da felicidade eterna se provocado muita dor.

A religião, em si, tem culpa? Estou tentado a dizer que se lhe atribuímos determinados benefícios, temos que lhe imputar malefícios. No entanto, não esqueço, que são os humanos que as inventam. Não é a fé em si, senão o fanatismo – e fanatismo em geral é criminoso – que tem a culpa.