31 de out. de 2014

Lei.

Leis.

É certo que quem fala das leis, da lei das leis, não fala da justiça. E se nos agradam ou não, meu caro, que se fale das leis, elas são consequência da miséria humana, quanto mais leis, mais miséria; de todo modo, é o que há. Em contrapartida, a justiça é uma abstração qual somente os crédulos confiam. Mesmo a representação da Justiça é uma aberração. Balanças equilibradas! Quem decide o que pesa? Quem é capaz de as equilibrar? Olhos embevecidos, cegos? Neutralidade? Imparcialidade? Não, o que falta é compreensão, mas ao final, não nos enganemos, o que vale é a espada.

Descartada a abstração, falar de concretudes: legisladores, juízes, necessariamente interpretes parciais, manipulações legislativas e juízos etc...é uma tarefa qual me vejo incapaz de desenvolver, que ultrapassa a minas capacidades físicas e intelectuais. No mais , que sentido teria?

Infinito.




O garotinho ia recitando números de um dígito, sem nenhuma ordem evidente, começara pelo 5. Eu, que penso que nos elevadores o diálogo é facultativo mesmo com os conhecidos, no entanto me somei ao jogo com o 10.
O garotinho, com certeza molestado pela intromissão ou porque desconcertava aquela sequência que lhe era adequada, com o rosto próximo do bolso de minhas calças, levanta o olho e, num desafio me diz: 56.980.
Me descarrilhou! Foi o que senti. Cai na armadilha. Sabia que viria um fim ainda pior. No entanto, sei perder e não fujo da raia, então disse com humildade de quem reconhece a culpa: 56.981.

Ele com um sorriso matreiro, lentamente desembucha: INFINITO. Derrotado, pensei em infinito ao quadrado, minha metafísica não me ajuda em nada, por sorte o elevador parou e ele quando já fora do elevador abanou a mão, Tchau!  

29 de out. de 2014

Dois mil anos de escuridão.

Dois mil anos de escuridão.

A bíblia em muitos casos é explicita, noutros vaga, talvez esperando que o ouvinte ou o leitor capte algum simbolismo. Não sei. Não entendo como Adão e Eva não se deram conta – antes de comerem a maçã – que estavam nus. Já tentei várias explicações, nenhuma que me fosse relevante. Uma interessante, ao menos para mim, é que havia tanta coisa no paraíso para se contemplar que nem se deram conta do pelados que iam, talvez nem de se entreolharem tiveram tempo, ou que andavam cegos, e a maçã os curou. Parece que não, mas este fato é cheio de importância. Outra que me intriga é por que subitamente decidem se cobrir, em concreto, o baixo-ventre. Não creio que houvesse câmbio climático, ao menos a Bíblia só  fala mesmo da grande inundação.
Alguém, algures, pode pensar que isso é de somenos importância, mas intuo, creio, que boa parte dos acontecimentos mais transcendentes da história ocidental, têm a origem e a explicação no fato simples e misterioso: Adão e Eva cobrem-se seus entre cochas, respectivos. Penso que o mundo seria bem diferente, se eles houvessem decidido cobrir a cabeça, o que seria mais lógico, porque a ira divina vem do alto.

Qualquer explicação neste momento se reduz a mera interpretação literária, que é para lá, para a estante da ficção literária , que o Papa Francisco mandou a obra, depois de dois mil anos de escuridão.   

28 de out. de 2014

Tarrafa.

Tarrafa.

Tangentopoli foi o nome elegido pelos italianos para denominar um país imerso na corrupção, generalizada, que incluía todas as forças políticas e todos os âmbitos de uma sociedade caracterizada pela compra e venda de favores políticos e administrativos – tangente é suborno em italiano – . Aquela sociedade podre acordou por uma refundação das forças políticas – desapareceram então a Democracia Cristã, o Partido Socialista e o Partido Comunista, entre outros - , num ''macroprocesso'' dirigido pelo juiz Antonio di Pietro, sob nome de Mani Polite (Mãos limpas), e incrivelmente entronizou um dos empresários que mais se beneficiou com a corrupção: o líder de Forza Itália, Signore Silvio Berlusconi.
Em Espanha se vive um momento, também. bastante delicado, neste aspecto, aonde as detenções de políticos implicados em casos de suborno, comissões, evasão fiscal é diária. Ontem foram detidos 51 políticos , dos grandes partidos PP e PSOE, implicados numa rede de compra e venda de favores.

Em nosso país a coisa não é diferente. Algo deve ser feito, mas não se trata de eleger um bode expiatório, e tampouco de crucificar sem provas, e sim que todas as desconfianças sejam investigadas, talvez uma força tarefa, que daria o nome de Tarrafa.

26 de out. de 2014

Sem palavra não há expressão do pensamento.




''Até que não sejam conscientes da sua força não se rebelarão, e até depois de se rebelarem não serão conscientes. Este é o problema''. A frase se encontra no Livro proibido que o protagonista de 1984 lê, É ficção, mas se parece bastante a realidade. Em 1984 os submissos já amam a sua servidão. Uma das fórmulas mais eficazes é o controle da linguagem. Nos meios de comunicação muitos sintagmas já desapareceram, a Folha de São Paulo em seu manual de redação, proíbe o uso de determinadas palavras e locuções, e os manuais estão em todos os meios de comunicação. Igualdade de direitos, consciência de classe, divisão de classes, luta de classes há tempo foram banidas. Liberdade e ditadura não são usadas por nada. Tudo tem um motivo, que os indivíduos não os tenham a mão para quando tiverem um pensamento correspondente. Sem a palavra correspondente não se pode expressar o que se pensa, já pensou nisso?

23 de out. de 2014

Um Viva à Guerra!

Estamos de parabéns! Sim todos nós. Que nos metemos nesses dias todos – meses – a discutir a eleição, chegamos – alguns – a guerrear. Houve casos de guerrilha, de um lado e outro, um amigo de um amigo, comentou meu post, de pronto ofendendo, e sumiu na selva virtual nunca mais apareceu aqui. Um que mudou de nome umas 7 vezes, e bloquei-o todas as vezes, e ele jurava estar mais tranquilo. Kakakak
Aproveito para parabenizar a todos os meus contrincantes, rivais, antagonistas, adversários, tiradores de sarro, ofendedores e ofendidos ( porque a via é de mão dupla).
Se a coisa polarizou, é porque há diferenças brutais, beira ao antagonismo, entre uma proposta e outra. Porque há sim propostas, ainda que alguns não as veem.
Ontem vi bacanérrimos nas esquinas militando, achei divino, claro, tomara que percam! Mas gostei de vê-los defendendo o outro projeto, porque há projeto, ainda que seja frontalmente contra meus interesses, pessoais e ideológicos, porque em tudo está a ideologia, até no Mickey mouse. Viva a democracia.
O vencedor, seja ele qual for, não terá vida fácil. Tomara! Só assim melhoraremos nossos políticos e nós mesmo. 
Não sei quem disse, mas disse bem: ''um governo fraco é fruto de uma oposição também fraca"

Viva a guerra, porque a paz só nos deu perdedores.
 

20 de out. de 2014

Política.

Política.
.
É mais que ter que gostar. Nada é mais incompreensível que esta frase: “Não discuto Política”. Qualquer discussão é política, discutir religião é política, discutir futebol é política, toda discussão política mesma a que acaba em facada, que além de política é visceral; e é visceral por falta de argumentação; e falta argumentação porque falta repertório para expressar o que pensa; e o pensamento exige informação, sentimento, conhecimento e razão civilizatória ( noutras palavras, já ser um bom selvagem), para que as contendas não acabem em facadas.
Se o ódio permeia as redes sociais, só faz eloquente nosso despreparo, político. A política já foi praticada com músculos, vide ditaduras; pelos deuses, na Grécia antiga; pela democracia grega; religiosa vide Moisés e sua constituição outorgada por Deus no Sinai, sem a qual não cruzaria nem quinta avenida; pela crendice, vide pajés; e por uma mistura de crendice e religião, vide os primeiros Papas, e depois os Reis, até o absolutismo decepado.
Das cabeças decepadas até agora, muita água rolou debaixo dessa ponte, e nunca águas calmas, pasmaceiras. Não, sempre é renhido, no mínimo, chegando à truculência muitas vezes. Dos últimos cem anos, este já é o mais longevo entre nós, em termos democráticos, seja qual for nossa democracia. Louvemos.
A democracia é o poder na mão do humano, seja qual for o humano, a democracia é uma regra entre humanos, mas o poder nem sempre esteve nas mãos humanas como já disse acima. Tudo em função de acomodar as tensões de milhões de interesses ímpares.
Há quem pense, que poderíamos viver sem os políticos. Das utopias esta é a menos possível, pois implicaria num grau de emancipação humana quase de paraíso, sem cobras, ou alguém consegue ver uma situação aonde todas as pessoas que abalroam – inclusive você e sempre – um outro carro, parar ligar o pisca alerta, pedir desculpas, dizer : ''pago tudo'', porque estou completamente errado”. Só nesta topada de dois carros , se não existisse o estado e por conseguinte: o político, ou o pajé, ou o papa, ou o rei coroado, ou adolf, para que todas as instituições políticas fossem ser criadas naquele momento, a pena de ocorrer uma morte ou mais. Mas as instituições estão presentes – ainda que ausentes segundo o ponto de vista –.

Tudo deve melhorar? Pardelhas! Se devem. Se discutirmos mais e melhor. 

14 de out. de 2014

Jabberwocky. Lewis Carroll.

Tudo isso é só para dizer, que foi daí que veio a ideia de praticar etimologias, próprias.

Quando Alice atravessa o espelho, um dos primeiros objetos que encontra é um livro escrito num alfabeto incompreensível. Ao menos até o encarar ao espelho e ai descobre um poema de título 'Jabberwocky'. Carrol havia consultado o impressor sobre a possibilidade de reproduzir textos em simetria especular; este disse que não havia problema, só sairia mais caro. Alice então, descobre que o livro é legível diante do espelho, quer dizer, mais compreensível, já que o texto é cheio de palavras que se desconhece o significado. Porque muitas delas foram inventadas por Carroll.
Fiquei sabendo disso, pois uma vez de posse do poema, tentei lê-lo, tirante meu inglês anêmico, encontrei palavras que não tinham significado. Então fui em busca de informações e encontrei estas.
O nome do monstro é Jabberwock, e não Jabberwocky, porque Carrol declinou, como Eneias da Eneida, ou melhor a Eneida de Eneias. Como a Odisseia de Odisseu. A Jabberwocky de Jabberwocky. Carrol - formalmente – parodia uma balada épica medieval, mas suas palavras que soam arcaicas não têm relação com as antigas línguas anglo-saxônicas.
Pela etmologia e significado de certas palavras do próprio Carroll, por exemplo, Tove é um tipo de texugo (badger) com a pele lisa e branca, com chifres como dos veados e que come basicamente: queijo.
Outro tipo de invenção que Carrol usa é a junção de palavras como em The frumious Bandersnatch!
Onde 'frumious' – para Carroll – é a maneira equilibrada de dizer ao mesmo tempo 'furious' e 'fuming' este ruminando e aquele raivoso o que dá para mim 'ruimivoso'.
Curiosamente, alguns destes híbridos engendrados pela imaginação de Carroll, foram incorporados à língua inglesa. Como o verbo Chortle, que é 'chuckle' risinho e 'snort' que é bufar. Seria o mesmo que botar um risinho no Dunga, ou Felipão, eles bufam mas com enfado, sem risinhos. Acho que só a Fernanda Montenegro poderia expressar tal coisa.
Ou uma criança, desavisada.



'Jabberwocky'
'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimblein the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

"Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!"

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! and through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

"And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!"
He chortled in his joy.

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

12 de out. de 2014

O Banquete.

O Banquete ou O Churrasco.
''agradecimentos especiais à Fafá, Cláudio, Donato, Silvana e Gil Gil."

Quem nunca ouviu falar do amor platônico? E ainda mais, quem não teve um? Aquela professora de Geografia! Virgem mãe santíssima, e a de português, então, de biquíni lá em Miguelópolis? Tem gente que amou Thatcher envolvida em papel celofane. Sempre acreditei que o amor platônico se referia ao amor impossível, eterno desejo jamais satisfeito. Sonho sonhado desperto de quem aspira e jamais obtém, e sabe que isso é assim e assim será.
Mas, no diálogo 'O Banquete' (tem até filme francês), Platão, que se diga, não é o autor, desenvolve uma teoria do amor que nada mais tangencia, e se ajusta ao que atribuímos, hoje, à expressão. Ele fala de amor desejo, que não tem nada a ver com a carne sexual. Fala de uma aspiração ao saber que começa pelos corpos, e vai além deles. Entre nós isso parece, em muitos círculos, sem sentido, mas para ele, o desejo de saber, a aspiração à verdade e à beleza eram o verdadeiro e último objetivo da paixão amorosa.
O Banquete, eram reuniões entre comensais, para comer e beber, muito comum entre os gregos e entre nós, poderíamos chamar de O Churrasco. E pelos mesmos motivos pelos quais metemos fogo num monte de carvão. Depois de comer, e durante, se metiam a conversar, era a sobremesa, regadas com vinho, nós regamos com cerveja, com certeza.
Hoje, pude experimentar um pouco disso no mundo virtual. Travamos um Diálogo, aonde o banquete acontecia a léguas de distância. Foi um começo. Trocamos fotos dos nossos pratos, sentimos o cheiro, deu água na boca, etc...


10 de out. de 2014

Cidão na cidade das maravilhas. El Pulgatório

Ficaria feliz de ser velho
numa cidade com poucos policiais,

onde a música boa soasse nos beirais,
onde a pintura fosse admirada,
as orquídeas, e os bonsais,
os ipês amados como as cerejeiras,
no japão.
Onde ser criança ou operário,
nada tivessem que ver com tristeza.
Uns dentro de casa, outros na janela fumando
conversas, hospitalidades, como se fossem flores a queimar,
nos dias, poucos, de muita geada.
Uma feirinha de velhos objetos de interesses
inúteis, como restos de um naufrágio
bananas de todos os tipos,
tudo muito e para todos.
Por ela vagaria, sem melancolia, ou melhor
por amor a melancolia,
onde uma velharia,
grande novidade
ainda outro dia encontrada,
como um relógio de pulso,
não fizesse sentido.
Sábios muitos de muitas maneiras,
com guarda-sóis coloridos,

ainda que as casas aninhassem sombras.

8 de out. de 2014

Ão.

Tenho um rabo travesso.
E o pelo ouro mosqueado
o parapeito meu lugar
por parente o jaguar.

Dizem que sou anacoreta.
Não é bem isso, arte minha
é bastante, o rebuliço.
Frita, sim frita a sardinha.

Com a pata no mosquito.
Desenrolo o novelo.
Finjo que não me vês.
Salto ao teu joelho.

Já me agrada esta vida,
preguiça, saltos, preguiça
e queixar-se é de mau gosto.

Mas as vezes querias
ter um gato sem manias
que te desse algum desgosto.


Brisa.



Paciência, paciente leitor. É paciente, porque sabe olhar para isso e gastar o teu tempo lendo estas linhas, palavras vãs de um anônimo que o vento nético leva para olhos anônimos como os teus, que tudo veem, paciente leitor.
Deixe que te fale de paciência, de lentidão, de ofícios feitos das gotas que caem, pouco a pouco, na borra das horas. Deixe que te fale dos últimos discos, quaisquer dos últimos discos, que deixamos passar despercebidos, ocupados que estamos com tantos ruídos.
Não pelo que são em si estes álbuns ou outros, compostos por temas suaves, alma pura, peças curtas, quase ínfimas, imperceptíveis. Mas sim, pelo que representam, se é que as miudezas representem, e portanto engrandecem, conectam a novos ritmos mais amplos e mais altos, neste mudo doente. A música, qualquer música é uma brisa, leve, sem parar, pelas ruas da clave, rua acima, rua abaixo para aonde a leve o tempo meteorológico. A música, qualquer música, essa brisa que é quase silêncio, sem deixar de murmurar. Não importa se vozes, guitarras, tamborins, cavacos, agogôs, um surdo afogado, tum, desde que nos faça, que nos faça não, que nos tente, uma tentação de acreditar nas amizades, ou mesmo, de voltar a crer na bondade dos seres... música, lenta, brisa, murmurando, inoculando harmonia, elegância por dentro da etiqueta, música e dignidade de fazer
passado e presente, paciência, paciência, como a tua que chegou até aqui, que combateu cada linha com silêncio, suspendido na tua sensibilidade, na transparência do teu tempo, diante da turbulência do tempo lá de fora, que te procura, e te procurará sempre, mas mantenha-se intacto, com teus amigos, para ser melhor, e nos fará a todos melhor.

Isso foi escrito ouvindo Breeze Eric Clapton & Amigos. se clicar em Breeze vai direto ao youtube. 

6 de out. de 2014

A Educação, Sexismo, Barbárie, no país que mais vende sofás no mundo!

matheus urenha A Cidade


Ainda que mal interpretem o que direi, creio que é bom dizê-lo: “O pior inimigo de uma mulher não é o homem senão uma outra mulher”. Todavia, é de justeza recordar, que o referente histórico das desigualdades de gênero sempre foram os homens, e por isso que surgiu o movimento feminista, que tinha como a finalidade conseguir a igualdade política, econômica e jurídica da mulher relativamente ao homem. Na longa história de desigualdades temos infinidades de exemplos, alguns por demais dramáticos, e outros que dão a entender até que ponto a sociedade tinha e tem interiorizada esta desigualdade, tanto que se pode dizer: se vivia e vive com total naturalidade. É por isso que práticas atuais voam em céu de brigadeiro, é o caso de uma empresária que não direi o nome, para não me implicar, pois não tenho departamento jurídico como ela, eu não posso me defender, mas eles podem me acusar que focinho de porco é tomada. Pois esta empresária não é partidária de contratar mulheres com alguma possibilidade de gravidez, pois é um estorvo, financeiro. Penso que se venha em algum momento pedir um certificado de esterilidade, será um passo. Estamos nas antípodas do mundo civilizado.
Até os anos 70, havia pouquíssimos professores, elas dominavam esse mercado de trabalho. Só as mulheres acudiam a ele, por um salário inferior, que se dizia: o segundo salário da casa, adonde se supõe que era um ‘complemento’ da renda familiar. E por essa e outras, que o salário na educação é muito inferior a qualquer outra área que exija nível superior.
É impudico este país. Sempre aos mesmos, aos membros das castas privilegiadas, dos que têm bula papal, carta branca, imunidade absoluta para fazer e desfazer, do pertencimento à grande família dos de sempre, uma turba que não se move, nem em tempos de ditadura ou em tempos democráticos. Alguns têm origem na mais pura essência ditatorial, que se ao menos nos dissesse seu projeto de país, mas não, é um projeto particular, privado, familiar dentro de um país... nada que não fosse antes... Pode-se dizer que uma boa televisão, um jornal impresso etc é muito pouco para um país desse porte, mas não é, se você for o dono dessa TV, desse jornal... Fala-se demasiado em mercado, em auto regulação de mercado, mas não temos mercado, senão que um mercado distribuído em forma de capitanias hereditárias. Para citar um, a CBF não me deixa mentir...
É por essas e outras que se vende tanto sofá.  

4 de out. de 2014

Churrasco com Borges!


Estava à churrasqueira quando Jorge Luis Borges tropeçou num saco de carvão. ''Cuidado, Borges” falei, “O pedaço aqui está cheio de coisas esparramadas'' . “Joana, por favor, tire o isopor de cervejas do caminho, para nosso amigo poder transitar, sem perigos”. “Claro, sempre sobra para mim”. “Ah! Meu amor!” Botei os bifes de picanha com o lado da gordura para as brasas. “Borges, você já parou para pensar, o quanto está implícito numa frase, como : Traduzo Guimarães Rosa para o espanhol? “Sim! Está implícito que Guimarães Rosa tem seu próprio português, como tenho meu próprio espanhol. E quando um professor de espanhol traduz para espanhol, se trata do
espanhol que pertence a todos os hispanos falantes e a nenhum”. “Entendo, pois o professor de línguas sente a responsabilidade do idioma, não nas suas modificações, senão pela sua integridade monolítica, são os piores tradutores”?Sim” disse ele todo entusiasmado e acrescentou “Digamos que há o italiano de D'Annunzio e o inglês de Auden, como o português de Guimarães, o espanhol de Cervantes, e as línguas dos professores de línguas”! “Ao ponto?” “Sangrienta como la luna”!



3 de out. de 2014

Nós!

Nós!

Liamos nossa autobiografia,
tudo se passava numa sala
num quarto
a sala dá saída para a rua
ninguém transita
não há barulho
árvores cheias de folhas
carros estacionados
nada se move.
Continuamos a passar as páginas
a espera de alguma coisa,
de misericórdia talvez
uma mudança,
nada nos une
senão uma linha obscura,
também nos separa.
Parece um livro vazio,
o mobiliário já foi novo,
os tapetes estão gastos
justo aonde passam nossas sombras,
a sala é nosso mundo
líamos juntos,
e do lido discutíamos sobre o sofá,
liados,
digamos: o ideal é:
Não botar os pés sobre a mesa de centro!







2 de out. de 2014

Setembro em outubro.



Outubro,
já caminhando por ele,
vejo espalhados pedaços de setembro,
arrastados pelo vento,
vento de agosto.
Na carteira gorda de papéis,
um bilhete de metro que já não me levará a lugar algum.
Um telefone anotado,
conversa que acabou em risadas,
ou promessas,
ali permaneceram como areia no bolso do calção de banho,
que secou estendido na areia de Picinguaba,
por um amor de verão que ninguém mais quer,
a maré cheia encheu de água as pegadas de dedos levantados.
Esse vento agostiano arrastrando: não-me-esqueças, para-sempres,
emaranhados com os ecos de: não-me-lembro,
uma montanha de conchas de ostras chupadas.
Não chegarei a tempo,
não adianta ter pressa,
o barco já partiu,
já é outubro, um rumor de ondas,
relembram tua voz,
teu rosto que já não posso recordar.
Tua pele bronzeada acariciada,
o fosso do castelo de areia,
inundado,
em que habitávamos,

e lá presos caducamos.   

Here come the planes. They're American planes. Made in America. Smoking or non-smoking? L.A.




Outro dia encontrei um amigo a que, apesar de conversas pelas redes sociais, não via havia décadas. Ao lado da alegria do reencontro, a troca de novidades, o repasso do passado e tudo que vem ao caso nestas ocasiões, me reconfortou especialmente comprovar que ainda fumava. Muito dos velhos amigos deixaram de fumar, por uma razão ou outra, mas de fundo é a melhoria da saúde e sua conservação. Ainda que todos sejam permissivos, tenho que andar com cuidados, pois me olham com certa comiseração, se não me chamam a atenção com palavras, o fazem com o olhar, como se se me vissem a andar pela contramão pela Anhanguera.
As vezes tento uns truques, ainda não me propus a deixar o tabaco, como o de não me deixar vencer facilmente pela tentação, e assim prolongar o desejo até que se apresente um momento propício. Um momento ou uma paisagem. Assim, por exemplo, ao final de uma caminhada pelas estradas de terra, ou lá embaixo na beira do córrego, onde há uma casa desabitada, sento-me a beira do riachinho, então pegar um cigarro com todos os cuidados, como cheirar seu fumo, acendê-lo, protegendo o fogo do isqueiro com a palma da mão, saboreando-o de cara para o ouro do poente.

Ou então comprazer meu desejo de fumar desde uma perspectiva exterior, intimamente, lendo um livro. Ou como prêmio por alguma empreitada, como fazia meu avô, ao finalizar uma tarefa, desbrotar duzentos tomateiros, de tal modo que se parece muito a coroamentos,  entrega de medalha,  cerimonial, de algo proveitoso ou deleitável...Laurie Anderson Superman

1 de out. de 2014

Anúncio de uma morte crônica, desavisada.


Penso na vida de Santiago Nasar,
do romance que leio,
ele morrerá. Às facas dos Vicários.
Melhor dizendo, ele já morreu,
mas continuará morrendo até o: Fim.
É tão diferente de mim.
Aqui a lua olha para baixo, de pouco caso,
através das nuvens dispersas,
sobre a cidade que vai dormir.
O vento, arrasta para lá e para cá as folhas da amoreira,
e alguém – quer dizer, eu – afundado na minha poltrona,
com preguiça folheio as folhas que faltam,
não há nada a fazer,
não há 'se' para ele,
nem luz vermelha,
nem arco-íris,
nem Bayardo San Roman.
Nem o bispo,
nem as gaiolas de galinhas guindadas ao bispo,
nem o barco que se arrasta pesado pelo rio lento.
Tudo chegará ao seu fim,
como uma chuva, ou um cheiro de terra molhada pela chuva,
ou a recordação disso tudo, ou cagadas de pássaros num sonho.
Nem uma voz nos faz saber
nem vagamente,
nem sem desesperança,
e chega o final, que também passa.