26 de jul. de 2012

Livro do Êxodo.



Trata da condução dos hebreus, por Moisés, rumo à terra prometida desde a escravidão no Egito.
O ponto culminante é a subida de Moisés ao Sinai, onde recebe de Deus os Dez Mandamentos estabelecendo a relação desse povo com Ele.
O que significa a produção dos Mandamentos para os hebreus?
A primeira vista é a produção autoritária da lei e a imposição dessa lei. Por outro lado, é importante sinalizar, há simbologias; a saída de um período de opressão, a passagem pelo mar, a criação de uma nova ordem, o aspecto dialógico da criação da unidade.
Levando-se em conta que o livro do Êxodo é um dos cinco livros do Pentateuco, e sabendo que o primeiro é o Gênesis, e de toda a reiteração que existe em todos, de todas as penalizações a todo comportamento fora da reta, até culminar nos Dez Mandamentos; é importante notar como comportamentos não aceitos ao longo dos cinco livros, são mostrados sob vários aspectos, são matizados, por vezes sob voz autoritária, outras dialogadas. Desde o Gênesis se diz que o povo não é capaz de se constituir em si, incapaz do autogoverno, da autogestão, mas isso vai sendo discutido, perdoado, sendo apagado do 'livro', aliás como pede Moisés. Mas esse mesmo povo conhece o poder piramidal, o faraó, conquanto opressor, que escraviza, ao mesmo tempo sabe da escravidão do bezerro de ouro, e tal conhecimento experimentado ao longo do tempo é sintetizado por Moisés, me permito pensar em Moisés como o intermediário de Deus capaz da síntese, da unificação das subjetividades, dos deuses, e se posso pensar em deuses como um espectro de razões. Razões regidas por deuses quase particulares. Moisés consegue unificá-los e simbolicamente estabelecer os critérios de relação entre Deus unificado e os homens; ao mesmo tempo estabelecendo os parâmetros relacionais entre os sujeitos unos. Não se deve esquecer da experiência vivida pelos hebreus frente ao Deus encarnado em Faraó.
Do ponto de vista literário, Deus como personagem ausente, é tratado em terceira pessoa, e suas falas se apresentam na forma de discurso indireto.
Fiat Lux, Fiat Logus, Fiat Lex.
Nesse caso entendo Fiat Lex, como a lei constituída como a própria constituição do povo hebreu. Mesmo havendo uma superioridade de Deus frente ao povo, esse poder simbólico institui o vínculo, sendo a lei o limite. Subliminarmente amalgamando autoridade, povo e identidade numa aliança.

10 de jul. de 2012

Lixo


 O Lixo.

Efetivamente o que mais produzimos é lixo. Literal e abstratamente na maioria das vezes. Ai se te pego... Obladi Oblada... Os Romanos inventaram a captação do esgoto. Os Ingleses a cloaca com assento. Tudo isso e infinidade de fatores culturais – quase tudo é descartável do envolucro ao conteúdo – nos faz ter vistas e narizes grossas para tão laborioso produto malcheiroso. Este ao não mais fazer parte de nós, queremos que outrem dele se ocupe. Alienação pura e simples, que os urubus não dão conta. Os urubus são 'termômetro' de nossa higiene social. Sua quantidade no céu de nossa cidade, diz algo de nossa carniça. A palavra reciclável – se tornou um mal entendido – criou outro tipo de urubu, o humanurubu, se me permitem o neologismo também lixo. As cooperativas – ajuntamento de lixo – pelas quais passei pela frente, são locais que não podem feder pior. As pessoas que ali trabalham e os que ali depositam o fruto de sua catada diária, muito pouco se diferenciam daquilo, em aparência, antes que me digam, digo eu: elas tem vida, sonhos como todos.
Um que outro fotógrafo ainda é laureado por fotos de crianças macilentas – em geral negras – dividindo espaço com ratos e urubus. Para mim esse tipo de fotografia e seu fazedor estão quase no topo da piramide da urubuzada, vive do lixo. Outro urubu, em nossa cidade é o caminhão do lixo e seus lixeiros que conseguem o grau máximo de degradação, não é possível ser mais feio, fedido e asqueroso, recolhendo – se é que se pode usar essa palavra – sacos colocados nas calçadas, rasgados pelos vira-latas, os catadores de latas, os buscadores de restos de alimentos e a simples e desleixada maneira pela qual tratamos o saco de lixo que ali depositamos – ou manda-se ao serviçal que deposite, vide grandes edifícios – desamarrando, cheio de mais, lixos líquidos, líquidos estes com dias curtindo nas casas e horas ao sol, junto com toda a organicidade da coisa, já é chorume, que a prensa do caminhão faz verter pelos seus buracos e vai deixando pelas ruas a marca, talvez como no conto de fadas para não perder o caminho de volta. Por fim os políticos que não vêm nisso ineficiência administrativa e a empresa que sob a cegueira da administração acabam por se coroarem o próprio urubu rei, sem contudo saberem “pegar uma térmica”, e seus voos são curtos, nem por isso produzem menor degradação. Tudo isso contando que o 'serviço' do lixo se cumpra no dia a dia, pois há as falhas do sistema, os erros, os abusos então o que parece insuportável tem seu viés de 'piorança'. Nunca pensei em usar a palavra generalizada tão seguramente, mas há todavia a exceção que por pior engloba o geral, porque há rincões na zona norte, oeste e leste que beiram o desespero.
Há ainda o lixo publicitário, as placas retiradas e por trás delas, pasmem deterioração são problemas para segurança dos que vão pelas calçadas, os beirais estão podres, as luzinhas de natal descartáveis; as armações de ferro para o 'embelezamento' dos natais, tortas, tristes, feias, horrorosas, lixo; o lixo sonoro – no centro, mas não só, é comum ouvir em cada loja um palhaço triste, uma música lixo clamando pelos transeuntes, motos e carros sonorizados pelas ruas apelam – os latões de lixo no centro é mais lixo, os enfeites de natal feitos de garrafas descartáveis são um lixo, assim como toda ideia de gerico de reaproveitamento nesse respeito. Essas coisas devem ser abolidas, e não se inventar aproveitamentos lixos com o lixo, quando muito alguma obra de arte quimérica, que acaba sempre se transformando em um problema de 'arquivo' cedo ou tarde, as calçadas com piso vitrificado, casas comerciais pintadas em vermelho coca, amarelo skol. por toda parte lixo.   

8 de jul. de 2012

Para ser Prefeito.



Ser prefeito\a é uma possibilidade extraordinária na vida de qualquer pessoa. Envolve pensar a natureza, a arte, a cultura, os recursos naturais, tecnológicos e o uso dos equipamentos urbanos e humanos de toda a cidade. O passado, presente e o futuro. Porque ao se valorizar o passado, seus expoentes e suas obras, faz-se outro presente, donde olhar para o futuro será menos triste, ao mesmo tempo gera o presente que será o passado menos leviano aos nossos filhos. Nossa busca como cidadãos é encontrar esse Ser com todas as aspas “Prefeitável”, que não seja de todo potente, mas que seja capaz de aglutinar capacidades para a construção, ainda que seja, da mera possibilidade de começar algo realmente novo, mas não só discursivo. Os candidatos se apresentam sempre com envergadura, tacanha, de obter vitória ou derrota para ou sobre o outro; e nos têm transformado em torcedores e numa hipótese mais cruel, a meros postulantes de favores mesquinhos.
Muitos dos problemas de nossa cidade, ao se lhes dar a volta como se fosse um omelete, é cultural, educacional, politico e citadino. Mas no fundo ao se buscar a solução para qualquer problema especifico, sua solução envolve globalidade de atitudes. Do lixo à alta cultura, há implicação de conhecimentos tecnológicos, contemporâneos. A 'governança' deve ir além dos entendimentos da 'ignorança' dos governados, porque mesmo meu nariz de fumante sente o cheiro que exala dos 'ribeirões'.   

A Escola dá a vida!



A Escola é um órgão do corpo social, com suas interações e ligames necessários e contingentes. Não é, por absoluto, dever do 'mestre' ser modelo, mas o é também. Diga-se de passagem, péssimo modelo, no que tange todo o 'sentido' que a vida tem no modelo social vigente, seja 'ter', e o mestre tem pouco, para não dizer nada. Tampouco o é, ninguém é, todos têm, muito ou pouco, e muitos nada! O educador é só mais um fracassado social, e como tal um exemplo a não ser copiado. Deve-se considerar contemplado aqui e acolá 'os fora da curva', por ocasião da regra. Há todo o tipo de estoicismo na educação, seria leviano não dizer, e mesmo em condições normais ( bons salários, equipamentos e condições mínimas de trabalho), o mestre, mesmo o mais 'preguiçoso' é um estoico.
Não creio em soluções alucinantes. O volume de educandos é assustador, implica centenas de milhares de professores. Por esses dias, ainda que para ser um ignorante, e saiba ler e escrever, há que se passar pela escola. Desde tempos imemoriais a escola educa, produz e se reproduz segundo o contexto a que está inserida, e não é, em absoluto, diferente hoje. Se é para ser cruel, como pede a realidade, digo: num tempo em que poucos liam dos poucos que sabiam ler, e ler, tirante as possibilidades fisiológicas, era um dos poucos entretenimentos, hoje lemos mais. Aqui, em se querendo pode-se inserir todo um capitulo a matizar a produção e qualidade do que se lê.
Salvo nas classes abastadas de antanho e famílias enclausuradas de hoje, para o bem e o mal, destas, as crianças brasileiras conhecem a vida na rua. Nos custa em demasia a rotina da organização (educar é botar em ordem, claro que há credulidades e fantasias nesse quesito) mas a organização particular, familiar e social é função educacional precípua e não dissimulada. Mesmo as classes mais médias, se isso for possível, há sempre alguém que lhes organize o apê. Ao se ler os anúncios de emprego no A Cidade, agora também às segundas, notará a suprema incidência da procura por auxiliares de faxina ao supremo auxiliar de auxiliares. Desconheço outros locais de hierarquização, tamanha, dentro da ala dos serviçais.
É aí que a porca torce o rabo, deve-se estudar para ser auxiliar de faxina ou se é auxiliar de faxina porque não se estudou? Para quem não dá bola a 'emblemas' a faxineira ganha mais que docentes do quadro funcional de Estado de São Paulo, e muito por causa disso, produzirá faxineiros, se tanto. Estudar é difícil e perigoso, exige atenção aturada, ordem e um tanto de submissão aos saberes. A boa abstração exige fundamentos, conceitos etc. Pode parecer paradoxal, mas esta dita submissão ao conhecimento nos leva à liberdade posterior, de tal modo que a liberdade excessiva na escola, a destempo, produz sensivelmente um sujeito escravizável, manipulável e, para fins menos nobres, execrável.
É aqui que estamos.