14 de nov. de 2009

Busão


Tomei o circular para Ribeirão. Ele abarrotado. Quando chegou ao Shopping muita gente desceu, então encontrei um banco livre, sentei. Ele voltou à sua lotação anterior. Uma morena gordinha ou dissima logo ancorou sua pança no meu ombro. Fingia uma preocupação com fios da CPFL que enfavelam a Presidente Vargas a rede de alta tensão, desembelezando-a exposta a inclemência dos temporais. Às vezes na falta de um anticiclone, o vento derruba tudo. Nem a minha neura abstraia aquela barriga. Desencostei-me do espaldar do banco. Tentei fugir. Me vinha às ventas um aroma adocicado. Ela mantinha seu umbigo na minha orelha. Sentia uma gota de suor baixar da axila oposta. Aroma vaporoso. Um calor tanto, todo que pensei; Dizer: Você não acha que faz muito calor, moça, (diria moça suavemente) para irmos coladinhos! Um aroma sanguíneo, frutado. Em vez disso; disse-lhe ofegado: puxa que calor, e passei minha mão pelos cabelos da minha nuca e ela veio molhada. Ela disse-me sorrindo, quase cúmplice: quer que abra mais a janela. Respondi por que não! Então ela avançou à janela desaforadamente feliz. Tocava seu fígado com o nariz, suas tripas penduradas no meu ombro e o meu braço sentia seus outros calores. Fonte de todo aroma. Foi quando me lembrei do Charles, sim o Charles Bucowisk tentando voltar ao útero.

fala ai Charles.

...Levantei-me e fui até o fodido banheiro. Odiava olhar-me naquele espelho, mas o fiz. Vi depressão, vi derrota. Umas bolsas escuras abaixo dos meus olhos. Olhinhos covardes, olhos de um roedor caçado por um gato também fodido. Tinha a carne macia, parecia que não lhe agradava ser parte de mim...

Ouvi, calei e na calada desci na parada seguinte, fumei um cigarro. Aproveitei e tomei um sorvete de cupuaçu.

13 de nov. de 2009

Preguiça domingueira.

Simplesmente passei o dia vendo e ouvindo coisas tais como.



clique e veja e ouça-
elomar

clicque e veja e ouça itamar
clique e vejaa e ouça ednardo

que mais fazer,

Poética.

Voltei para casa e o último trem, não voltou ou não partiu. No lugar da estação ferroviária, um jardim um imenso jardim sem nenhuma reminiscência. Fico com a estação que é de minha lembrança. Não se pode partir de um jardim. Não se retorna a um jardim. Minha estação. Digo minha, mas ela é universal. O logos de partir e chegar. E retornar. Já vejo o trem serpenteando pelos subires e desceres levando minha estação. Quando a vi pela primeira vez, senti essa coisa. Essa separação. Esse retorno. Esse Manuel Bandeira. Essa nossa união. Ir e volver sempre a mesma estação. Hoje já nem preciso de sua arquitetura rústica de grandes tijolos avermelhados, senti-a, sinto-a e sinto o sentimento sentido. Minha estação aos poucos quer se transformar em sintaxe. Em poesia. A estação dos sentimentos universais inapeláveis.

clique Aqui.
e Davi Arrigucci te proporcionará uns minutos de transbordamento poético.


Davi Arrigucci Jr. disse também:


"A poesia de Bandeira (..) tem início no momento em que sua vida, mal saída da adolescência, se quebra pela manifestação da tuberculose, doença então fatal. O rapaz que só fazia I versos por divertimento ou brincadeira, de repente, diante do ócio obrigatório, do sentimento de vazio e tédio, começa a fazê-los por necessidade, por fatalidade, em resposta à circunstância terrível e inevitável". Se quiser ler mais faça clique
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12 de nov. de 2009

O mini valhacouto da otariedade.





Dois fatos me fizeram recordar o campus da USP da Fazenda Monte Alegre, nos idos do final dos setentas e começo dos oitentas. Um deles foi a micro saia, o outro encontrar na contracapa do Jornal A Cidade um velho conhecido: Júlio Chiavenato. Assim mesmo, paroxítona terminada em ditongo crescente. Vergando o tempo e fazendo-o dobrar sobre o hoje eu flanava pela Universidade e ele de quando em vez aparecia por lá. Ele fazia palestra, naquele tempo sequer se pensava em conferências. Júlio palestrava. Geopolítica, Golbery, Figueiredo, Usina de Itaipu e uma ponte tão rente ao rio que impediria os argentinos de subirem o rio para comercializar com os paraguaios. Tudo caía bem, acho que éramos bolivarianos, marxistas, maoístas e líamos William Reich à luz de velas junto com as meninas (nós éramos meninos) que não usavam minissaia, se mais não, algumas da enfermagem. Aquelas quê usavam saias mais longas, longas horas se expunham em pelo (tanto que havia de pelos) ao sol à beira do lago, onde a cada final de ciclo básico da Medicina um que outro se afogava, não sem antes se afogarem no chope cedido pela Antártica. Outros, contudo afogavam outras coisas e mágoas. A sensualidade sempre fez mais minha cabeça que o erotismo. Há casos que poderíamos usar a palavra pornochanchada. Assim o trash estaria para o suspense, saltando o terror, como pornochanchada em relação ao erótico e este ao sensual. Mas eu vi A Gata Devassa, com a avó Gimenez. Os homens diante do erótico assoviam fiu-fiu, principalmente os pedreiros. Vivemos num pais erotizado, à beira da pornochanchadização. A crônica do Júlio (e que se me permita tal intimidade do em vez de de) é erótica senão que pornográfica. O texto é uma loira de boas medidas e cabelos tingidos, celhas negras, salto Luiz XV e vestidinho tubinho de malha cor-de-rosa subindo e descendo escadarias da Uniban (a malha não a obedece e sob e sob, ela a abaixa – isso se repete e se repete - diante de pedreiros nas partes baixas das escadarias a apedrejar dores. Começa pelo titulo. Otariedades. O Brasil é rico e o brasileiro é otário. Estado. O bando. Depois vem “valhacouto”. Valhacouto é uma espécie de vestido. Maracutaias. Corrupção. Senado. Currais eleitorais. Grotões. Redutos. Níveis. Otários. Sanguessugas. Ignorância. Povo. Votando. Aproveitadores. No sul. Classe média. Sabe das coisas. Não reage. Morrer nas filas dos postos de saúde. Ela como ele fez tudo certinho, tingiu os cabelos, fez as sobrancelhas, pintou os olhos e espichou os cílios, batom e blush, boas medidas, pouco valhacouto e a gente não gostou.